Esta será uma série de textos que iremos publicar baseados nos estudos e
traduções que nosso amado Haroldo Dutra está realizando, enriquecendo
grandemente a literatura espírita. Peço de antemão, que tenham a mente aberta
para a leitura, e abracem com o coração estes ensinamentos aqui descritos. Boa
Leitura!!
* Estudos sobre a Gênesis
A narrativa bíblica referente
a queda de Adão e Eva e a consequente expulsão do Paraíso está inserta no livro
de Gênesis, capítulo 3.
É preciso considerar,
inicialmente, que o texto bíblico é, por natureza, ambíguo, admitindo várias
possibilidades, o que exige do leitor um olhar perscrutador sobre a
narrativa que descreve a história de um casal que se deixou persuadir por uma
proposta, simbolizada pela serpente.
Desta forma, as figuras Adão e
Eva podem estar representando um casal, mas nada impede que estejam
representando, também, dois agrupamentos espirituais, ao lado de um terceiro
agrupamento espiritual, representado pela figura da serpente, os quais
remontariam, numa perspectiva espiritual, aos exilados de capela.
No livro A Caminho da Luz,
Francisco Cândico Xavier, na página 18, o espírito Emanuel destaca que, no seu
entendimento, Adão e Eva constituem uma lembrança dos Espíritos degredados na
paisagem obscura da Terra, e, às fls. 22, esclarece o benfeitor espiritual que:
As raças adâmicas guardavam
vaga lembrança da sua situação pregressa, tecendo o hino sagrado das
reminiscências. As tradições do paraíso perdido passaram de gerações a
gerações, até que ficassem arquivadas nas páginas da Bíblia. Aqueles seres
decaídos e degradados, a maneira de suas vidas passadas no mundo distante de
Capela, com o transcurso dos anos reuniram-se em quatro grandes grupos que se
fixaram depois nos povos mais antigos, obedecendo às afinidades sentimentais e
linguísticas que os associavam na constelação do Cocheiro. Unidos, novamente,
na esteira do Tempo, formaram desse modo o grupo dos árias, a civilização do
Egito, o povo de Israel e as castas da Índia.
A narrativa bíblica a respeito
da queda foi escrita quando os últimos capelinos, os egípcios, já haviam
retornado à Capela, depois de cumprir o necessário estágio na
Terra. Sendo quatro as raças que vieram de Capela, pode-se
considerar que as outras três raças, muito resistentes ao mal, representadas
pela simbologia Adão, Eva e a serpente, seriam os hindus, os arianos e os
hebreus.
Novamente, Emmanuel, no livro
A Caminho da Luz, destaca como que esses três grupos, resistentes ao mal, se
movimentaram na terra e influenciaram as demais populações do planeta, até os
dias atuais.
Por outro lado, o texto também
autoriza a abordagem do assunto sob o ponto de vista psicológico. Adão, Eva e a
serpente, simbolizariam padrões mentais, partes do psiquismo humano e suas
potencialidades.
Lamentavelmente, a narrativa
bíblica da queda de Adão e Eva do Paraíso sofreu, com a cultura ocidental,
graves erros de interpretação ao ser popularizada, desde a introdução da maça,
na função do fruto proibido, já que o texto original não diz qual era o fruto,
até a eleição da mulher como a responsável pela queda do homem.
É importante destacar que a
cultura hebraica se manifesta por símbolos e metáforas, com o objetivo de
abordar um tema de forma indireta.
Enquanto a cultura grega se
utiliza da arte para transmitir seus ensinamentos, a hebraica os faz pela
literatura, pois os hebreus entendiam que toda imagem religiosa configura
idolatria, por isso concentra todo o seu potencial simbólico na literatura
bíblica.
Assim, a serpente é um símbolo
utilizado para representar uma característica, que é própria da natureza animal
de uma serpente. Neste prisma, Eva não está representando uma mulher do sexo
feminino, mas uma força, um fato psíquico, um comportamento.
O símbolo é utilizado pela
cultura hebraica para descrever um fato abstrato; por isso, o elemento concreto
no texto não pode ser interpretado literalmente.
Destaca-se, que a
tendência para a interpretação literal de textos é uma característica do povo
ocidental, que, por isso, prejudicou por milênios a correta interpretação do
texto bíblico. Os personagens descritos neste capitulo são símbolos. O símbolo
se afigura a uma ponte que conduz o aprendiz a uma reflexão.
O texto bíblico não está tão
preocupado em descrever acontecimentos, mas sim padrões evolutivos. Ex. a
serpente de gênese, no decorrer dos textos bíblicos, se torna mais complexa e
mais robusta e dá origem ao dragão das profecias, tornando-se, ainda, mais
complexa, dá origem a besta apolítica que é uma colagem de diversos animais. A
serpente, para os hebreus, é aquela que semeia discórdia, que induz a criatura
à ilusão, ao erro, à queda. Atualmente, se vê muito sobre isso. Quantas pessoas
não induzem outros ao erro, à queda? Jesus muitas vezes chamou os fariseus de
“raça de víboras”, conforme está em Mateus 3:7; 12:34, 23:33.
Ë possível considerar,
portanto, estar o texto fazendo referência a padrões evolutivos, e, neste
aspecto, as imagens Maria e Eva, Jesus e Adão, representam consciências
conectadas com o bem ou com o mal. São padrões com os quais os seres humanos
podem se identificar. São arquétipos.
Maria se conecta com espíritos
evoluídos e Eva com a serpente. Maria é o padrão evolutivo de quem exerce a
plenitude do terceiro andar da casa mental. Eva, por sua vez, age impelida pelo
cérebro reptiliano. Maria é transcendental, Eva é só instinto e desejo. Maria é
a resignação: Eis aqui a tua serva.... Eva, o impulso primário.
Paulo escreveu em Corintos.
Primeiro Adão, alma vivente. Segundo Adão, Jesus, espirito vivificante.
* Civilização hebraica: breve abordagem histórica e espírita
Os hebreus eram um
povo de origem semita[1]que
habitava, por volta de 1800 AC, uma região às margens do rio Eufrates. Aliás, o
termo hebreu significa "gente do outro lado do rio”, assim designado pelos
demais povos que lhe foram contemporâneos. O monoteísmo, que orientou a
religiosidade do povo hebreu, influenciou as três grandes religiões monoteístas
do mundo, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, todas com raízes semitas.
As informações a
respeito desse povo decorrem dos relatos bíblicos, especialmente do Antigo
Testamento, das pesquisas arqueológicas[2] e
das obras de historiadores judeus.
O livro do Gênesis
narra a epopeia do povo hebreu e de seus patriarcas. O primeiro patriarca,
Abrão, em 1800 A.C., sob a inspiração de Deus, conduziu o povo da cidade de Ur,
na Caldéia[3], até
Canaã, terra prometida (Gn 11, 31), onde mana leite e mel (Ex 3, 8.17; 13,5;
33, 3). A Palestina representa essa terra abençoada, porquanto comparada com os
desertos da Arábia, apresentava-se como um verdadeiro paraíso.
Na Palestina, os
hebreus viveram por dois séculos, dedicando-se à agricultura e ao pastoreio.
Com a morte de Abraão, seu filho Isaac (Gn 25, 11) assumiu a responsabilidade
perante o povo, sendo substituído, mais tarde, por Jacó, que teve seu nome
alterado para Israel (Gn 35, 10). Jacó teve 12 filhos, originando as 12 tribos
de Israel. José, um dos filhos de Jacó, foi vendido, por seus irmãos, aos
egípcios (Gn 37, 28). No Egito, José ocupou posição de destaque junto ao faraó
(Gn 41, 40) e usou de sua influência para permitir que lá entrassem os seus
compatriotas, quando a seca e a fome assolavam a Palestina (Gn 47, 5).
Os hebreus viveram
no Egito pelo período de 300 e 400 anos, aproximadamente, multiplicando-se de
tal forma que se tornaram numerosos e poderosos, de modo que o país ficou
repleto deles (Êxodo 1,7). Na época, o atual rei do Egito, que não conhecera
José, ficou preocupado com o crescimento desse povo e decidiu limitar o seu
poder e crescimento, impondo-lhes severos tributos e trabalhos, e dura servidão
(Êxodo 1:14). Além da escravidão pelo trabalho, o Faraó determinou as
parteiras matassem os recém-nascidos, deixando sobreviver apenas as meninas
(Êxodo1:17). A história do povo hebreu começa a ganhar destaque a partir do
momento em que resolvem sair do Egito e, sob a liderança de Moisés, voltar a
Canaã.
Esse retorno é
conhecido como êxodo, e durou cerca de 40 anos. Ainda, de acordo com esse
relato, teria sido durante essa viagem que Moisés, no alto do monte Sinai,
recebera de Iahweh a tábua dos dez mandamentos (Ex 20, 1s), para guiar o
comportamento do seu povo.
Os hebreus
chegaram à Palestina sob a liderança de Josué, ante a morte de Moisés, no meio
do caminho. Depois de alguns embates com os povos que ocupavam o território (a
terra prometida), os israelitas se estabelecem na Palestina.
O povo hebreu estava
dividido, nessa época, em 12 tribos, e viviam em clãs sob o comando de um
patriarca. Posteriormente, por ocasião dos combates pela conquista da terra
prometida, sentiram a necessidade de ter o poder e o comando sob a
responsabilidade de chefes militares, os quais passaram a ser conhecidos como
Juízes. As principais lideranças deste período foram os juízes Sansão, Otoniel,
Gideão e Samuel, todos considerados enviados de Jeová, para comandar os
Hebreus.
Posteriormente, a
divisão política entre as tribos levou a necessidade e se estabelecer uma
unidade política, com a centralização do poder nas mãos de um monarca – Rei -,
que exercia as funções de chefe político, militar e religioso. Saul foi o
primeiro rei dos Hebreus, seguido por Salomão e Davi, sendo esses os principais
reis.
[1] O
termo semita tem como principal designação o conjunto linguístico composto por
uma família de vários povos, entre os quais se destacam os árabes e hebreus,
que compartilham as mesmas origens culturais. A origem da palavra semita vem de
uma expressão no Gênesis e referia-se a linhagem de descendentes de Sem filho
de Noé.
[2] No ano de 1947 foram descobertos pergaminhos em
cavernas às margens do Mar Morto (os Manuscritos do Mar Morto), possibilitando
a coleta de maiores informações sobre os hebreus. Esses pergaminhos foram
deixados por uma comunidade que viveu ali por volta do século I A.C
[3] Segundo a Wikipédia, Ur dos Caldeus foi uma cidade da
Mesopotâmia localizada a cerca de 160 Km da grande Babilônia, junto ao rio
Eufrates, habitada na Antiguidade pelos caldeus e que, de acordo com o livro de
Gênesis, foi a terra natal do patriarca dos hebreus Abraão, considerada também
a maior cidade de sua época. Durante o reinado de Hamurabi, Babilônia, vivendo
em Ur os hebreus eram agrupados em clã sendo dirigidos por um patriarca.
* OS
EXILADOS DE CAPELA
O livro A Caminho da Luz, do
espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ao abordar o
aparecimento da raça branca no planeta, faz referência expressa, no capitulo
03, ao surgimento daqueles que formariam o povo hebreu, nesse plano terreno.
Segundo Emmanuel, na Constelação do Cocheiro, há
uma estrela que recebeu, na Terra, o nome de Cabra ou Capela. Um dos orbes de
Capela, que guarda muitas afinidades com o globo terrestre, atingira a
culminância de um dos seus extraordinários ciclos evolutivos. Todavia, alguns
milhões de espíritos rebeldes daquele orbe dificultavam a consolidação das
conquistas daqueles povos. Deliberaram-se, então, as grandes comunidades
espirituais, diretoras do Cosmos, degredar, aquelas entidades que se tornaram
pertinazes no crime, para este planeta, onde aprenderiam a realizar, na dor dos
trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes conquistas do coração, além de
impulsionar, simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores aqui
residentes.
Os capelinos, reencarnando no planeta Terra,
aperfeiçoaram os caracteres biológicos das raças humanas, antes ignorantes e
primitivas, dando origem aos ascendentes das raças brancas. Inicialmente, se
estabeleceram na Ásia, partindo para a África, na região do Egito, seguindo,
posteriormente, para a longínqua Atlântida. Vieram em quatro grandes grupos e
originaram os arianos, os egípcios, os hindus e o povo de Israel.
Os arianos ocuparam a região da Europa em torno de 10 milênios antes da
vinda do Cristo, formando o grupo dos espíritos mais revoltados com as
determinações da ordem divina que os degredou e, por isso, não cultivavam
qualquer religiosidade, como faziam os grupos dos indianos, dos egípcios e dos
judeus. Embora houvessem ocupado o continente europeu há dez mil anos AC, não
deixaram vestígios de sua caminhada por aquelas terras, pois o culto à
divindade era o único caminho por meio do qual uma raça poderia assinalar sua
passagem na terra ou deixar registro de que houvera passado pelo planeta.
Somente muito mais tarde, com a contribuição dos milênios, aqueles
degredados - os arianos - formando a civilização celta, germana e outras que
habitaram a Europa, retomaram o culto divino, venerando as forças da natureza
ou rendendo sacrifícios aos seus numerosos deuses.
Considerando os quatro grupos de espíritos degredados na terra, foram os
hebreus que constituíram a raça mais forte, mais homogênea, mantendo
inalterados seus caracteres através de todas as mutações. Moisés, médium
extraordinário, na qualidade de mensageiro do divino Mestre, antes de abandonar
o planeta, legou à posteridade suas tradições no Pentateuco, iniciando a
construção da mais elevada ciência religiosa de todos os tempos para as
coletividades porvindouras.
* Bíblia:
patrimônio cultural do povo hebreu
Os livros que compõem o velho testamento constituem patrimônio[1]espiritual do povo Hebreu que, inclusive, os
guardou por três mil anos.
Era costume entre as civilizações antigas imprimir seus conhecimentos em
obras monumentais. Neste sentido, os egípcios, por exemplo, deixaram sua sabedoria
representada nas pirâmides. Os hebreus, por sua vez, deixaram nas palavras do
velho testamento, sua sabedoria, seus conhecimentos, desde os mais simples ao
mais espiritual e profundo, os quais desafiam o pensamento e o raciocínio
comum, exigindo do estudioso uma extrema sensibilidade a símbolos, metáforas e
parábolas, para poder penetrar nos segredos do monoteísmo hebreu.
A linguagem do antigo testamento, a Torá, para os judeus, tem
“profundidade e níveis de significados insuspeitos”, não sendo possível extrair
da literalidade dos textos, tomando-os apenas superficialmente, o “esplendor e
a glória que oculta” [2].
Para os sábios judeus - os rabinos - a compreensão dessa literatura
antiga, repleta de misticismo, permeada por conteúdos ocultos que se encontram
latentes e insuspeitos em suas palavras, exige o emprego de uma técnica de
abordagem denominada PaRDeS[3],
iniciais das palavras que representam as quatro formas de explorar e
extrair seus tesouros e significados, partindo da compreensão literal, passando
por níveis intermediários, para atingir a compreensão intima e profunda do
texto, somente possível de ser extraídos por meio dos conhecimentos da mística
judaica, contidos na Kabbalah.
Assim, Emmanuel, a respeito desse monumental legado deixado pelo povo
hebreu, no livro a Caminho da Luz, acentua que “o Antigo Testamento é um
repositório de conhecimentos secretos dos iniciados do povo judeu e que somente
os grandes mestres da raça poderiam interpretá-lo fielmente, nas épocas mais
remotas. Os livros dos profetas israelitas estão saturados de palavras
enigmáticas e simbólicas, constituindo um monumento parcialmente decifrado da
ciência secreta dos hebreus. Contudo, e não obstante a sua feição esfingética,
é no conjunto um poema de eternas claridades. Seus cânticos de amor e de
esperança atravessam as eras com o mesmo sabor indestrutível de crença e de
beleza. É por isso que, a par do Evangelho, está o Velho Testamento tocado de
clarões imortais, para a visão espiritual de todos os corações. Uma perfeita
conexão reúne as duas Leis, que representam duas etapas diferentes do progresso
humano. Moisés, com a expressão rude da sua palavra primitiva, recebe do mundo
espiritual as leis básicas do Sinai, construindo desse modo o grande alicerce
do aperfeiçoamento moral do mundo; e Jesus, no Tabor, ensina a Humanidade a
desferir, das sombras da Terra, o seu voo divino para as luzes do Céu. ” (Pag.
37).
[1] Paulo de Tarso afirma que aos hebreus foram
confiados os oráculos de Deus (Carta de São Paulo aos Romanos, Capítulo III,
Versos I e III).
[2] Irving M. Bunim. A ética do Sinai. Ensinamentos dos
Sábios do Talmud.pag. V da Introdução. Ed. Sefer.
[3]Peshat (sentido
literal, puro e simples). Rémez (sentido simbólico e
metafísico). Derash (alusão e associação de textos). Sod (significado
profundo, somente suscetível de ser compreendido pelos sábios eruditos
iniciados na sabedoria da Cabalá).
* Divisão
do Livro Gênesis
O livro Gênesis (Bereshit) está dividido em 03 partes:
Primeira parte – Capítulos 1 aos 11. Narra o início da
história da criação do universo e da humanidade. Esta primeira parte tem o
objetivo de fixar a crença em um Deus único, criador do Universo, a unificação
da raça humana na origem de ADAM (Adão) e sua mulher HAVA (Eva). As histórias
da criação tiveram como objetivo anular qualquer semelhança com as lendas e
mitos existentes na época.
Segunda parte - Capítulos 12 aos 38. Contém a história dos
patriarcas da Nação Israelita até a descida de José do Egito. Nessa parte,
existem as explicações do porquê Deus escolher Abraão e sua descendência,
prometendo-lhe a terra de Canaã. Narra, ainda, como Deus conduziu a vida do
povo hebreu para realizar a promessa feita a Abraão.
Terceira parte - Capítulos 39 aos 50. Conta a história de
Jacó e seus filhos, até a morte de José. Esta parte demonstra que Deus
supervisionava e guiava aqueles que seriam o povo escolhido, apesar desse povo
se encontrar fora da terra de Canaã. Os achados arqueológicos dos últimos anos[1], nas culturas egípcias e babilônicas, esclareceram
os costumes e os modos de vida dos patriarcas que viveram no início do segundo
Milênio antes de Cristo.
[1]Os Manuscritos do Mar Morto são uma coleção de
centenas de textos e fragmentos de texto encontrados em cavernas de Qumran,
no Mar Morto, no fim da década de 1940 e durante a década de 1950.
Esquema
do conteúdo
Princípio 1.1—11.32
A criação do Universo e da raça humana 1.1—2.25
O começo do pecado e do sofrimento 3.1-24
De Adão a Noé 4.1—5.32
Noé e o dilúvio 6.1—10.32
A torre de Babel 11.1-9
De Sem até Abrão 11.10-32
Os patriarcas hebreus 12.1—50.26
Abraão 12.1—25.18
Isaque 25.19—26.35
Jacó 27.1—36.43
José e os seus irmãos 37.1—50.26
A primeira parte do livro Gênesis tem o objetivo de revelar a existência de um Deus criador do cosmos. A criação é ordenada e cada elemento tem a sua função, estabelecido em
hierarquia, de forma que o mais complexo coordena o menos complexo. Assim, o
homem coordena todos os demais seres da criação (Gênesis 1:28).
As duas últimas partes do livro revelam um
Deus de amor, que cuida de toda a sua obra e que a tudo provê.
* Estrutura
literária do texto bíblico
É imprescindível pontuar que o
estudo da bíblia não deve ser feito a partir de uma abordagem meramente
intelectual, impondo-se ao estudioso considerar também os aspectos espirituais,
emocionais e artísticos das mensagens.
Acentua, Dias[1], neste prisma,
que os autores bíblicos utilizavam as palavras com parcimônia, engenhosidade,
estratégia, sem perder de vista os aspectos
estéticos, lúdicos e artesanais, inerentes a qualquer obra de arte.
Originariamente, o livro Gênesis
não fora escrito em capítulos e versículos, como os demais livros da bíblia
também não foram escritos com a divisão que ora se apresenta. Somente no século
XVIII é que os teólogos se reuniram e decidiram dividir toda bíblia em livros,
capítulos e versículos. O texto original não tinha pontuação nem vogal, sendo
escrito apenas com consoantes e letras maiúsculas. Somente após muito tempo é
que foram introduzidos vogais e pontuação nos textos.
* A
CRIAÇÃO - Considerações iniciais
O objetivo do estudo do livro de Gênesis está
voltado para a compreensão dos ensinamentos contidos nos textos e que
aparentemente se encontram velados pela simbologia empregada pelos seus
autores.
Para
o êxito do empreendimento utilizar-se-á os conteúdos ministrados pelo Evangelho
de Jesus e pela Doutrina Espirita, e reflexões produzidas pela literatura
cristã e rabínica.
O livro de Gênesis é considerado pelos estudiosos
como uma literatura poética, uma vez que todo texto é rico em elementos
literários, imagens, cadência e ritmo, evidenciando ter sido escrito por
inspiração divina. O livro descreve experiência vivenciadas pelo ser humano com
o Deus criador, cujo conteúdo não pode ser extraído por uma mera e simples
interpretação literal.
Desta forma, o estudo do conteúdo do livro Gênesis
exige, por parte de quem se propõe a conhecê-lo, silêncio interior para as
questões íntimas, a fim de que a luz do evangelho altere o patamar psíquico do
leitor. Essa postura difere daquela em que o evangelho é empregado para terapia
da alma. Nesta, o evangelho vem até o leitor. Naquela, o leitor se eleva até o
evangelho.
Necessário, pois, ter conhecimento da estrutura
geral da obra, para uma leitura contextualizada, ante a sua complexidade.
Segundo estudiosos, o livro Gênesis segue a seguinte sequência temática:
criação, aliança, exílio, êxodo, redenção. Estes temas resumem a bíblia toda.
É por isso que o livro de Gênesis é considerado
como o alicerce da bíblia, pois todos os demais livros, especialmente o
Pentateuco, seguem a estrutura literária e temática do livro Gênesis. É,
portanto, a pedra fundamental de toda a bíblia.
Ao apontar um Deus supremo e único, criador de tudo
que há no universo, o narrador de Gênesis contraria a cultura milenar a
respeito da criação adotada pela literatura dos povos da mesopotâmia e pela
literatura egípcia. Dentre os mesopotâmios, cita-se, a título de ilustração, o
poema da Criação, na literatura caldeia, que faz referência a Tiamat, um ser
mitológico que governa os abismos, sendo o responsável pela criação do mundo. A
cultura egípcia, à época, cultuava um panteão de deuses mitológicos, com formas
de animais.
A lenda da criação do mundo, para as outras
civilizações contemporâneas aos hebreus, baseava-se no entendimento de que os
deuses nascem e procriam como todo ser humano. Deuses que amam e odeiam e que
se envolvem em batalhas onde o vencedor se torna rei do panteão.
No entanto, os hebreus, contra argumentando,
apresentam um Deus sem história, porque Deus não tem história. Apresentam um
Deus que está acima do abismo, e, sutilmente, esclarecem que tudo que existe
foi criado por Deus. Todos os deuses cultuados pelas civilizações da época,
como animais, elementos da natureza, fogo, vento, sol, etc., tudo,
absolutamente tudo, está descrito no livro Gênesis como criação de Deus. O
objetivo foi esclarecer que há um ser único, transcendente, criador de tudo.
No século XIX, o Livro dos Espíritos retoma o tema
criação com uma linguagem filosófica e cientifica para esclarecer, na resposta
formulada à primeira pergunta do livro, que Deus é a inteligência suprema,
causa primaria de todas as coisas.
Assim, a terceira revelação,
consubstanciada na doutrina espírita, mantém coesão com o conteúdo do livro de
Gênesis, não somente no que tange ao Deus único, mas, também, a respeito da
coparticipação dos seres humanos na obra da criação, conforme Gênesis 1, 28.
O livro dos espíritos, questão
132, faz esta referência quando aborda os objetivos da reencarnação, acentuando
que a encarnação tem, ainda, outra finalidade, que é a de colocar o Espírito em
condições de enfrentar a sua parte na obra da Criação.
A segunda mensagem contida no
livro de Gênesis é afirmar que Deus é amor e cuida de toda a sua obra e que a
tudo provê.
Estudo baseado nas traduções de Haroldo Dutra que estão disponíveis em formato de vídeo no youtube.
Imagem: Google.