Esta será uma série de textos que iremos publicar baseados nos estudos e traduções que nosso amado Haroldo Dutra está realizando, enriquecendo grandemente a literatura espírita. Peço de antemão, que tenham a mente aberta para a leitura, e abracem com o coração estes ensinamentos aqui descritos. Boa Leitura!!
* Processo da criação
Inicialmente, torna-se imperioso destacar que o relato do livro de
Gênesis sobre a criação eliminou do pensamento humano a ideia da idolatria,
embora levasse tempo até prevalecer. O livro de Gênesis se traduz na
linha divisória entre a inteligência contemporânea e a confusão primitiva no
domínio das coisas primeiras e últimas.
O livro de Gênesis aponta uma visão mística da origem das coisas,
expressada através das palavras mais cristalinas e incisivas, acessíveis à
mente infantil e inspiradoras à inteligência adultas, suficientemente claras
para subsistir em eras primitivas, e profundas o bastante para desafiar
culturas desenvolvidas. (Severino Celestino, Bereshit, pag. 24).
O relato da criação está descrito no capítulo 1 até o capítulo 2,
versículo 4. A primeira observação que se destaca, nesse relato, é que a
criação tem um processo, segue em padrão.
O padrão adotado pelo narrador segue a seguinte ordem: anuncio,
ordem, separação, informação, nomeação, avaliação e depois uma estrutura
cronológica.
Assim, constata-se que todas as vezes que Deus cria algo, o texto
inicia-se com um anúncio: E disse Deus
No princípio criou Deus o céu e a terra.
E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo;
e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
E disse Deus (anúncio): Haja luz (ordem); e houve
luz (informação).
E viu Deus que era boa a luz (avaliação) e fez
Deus separação entre a luz e as trevas (separação)
E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite (nomeação).
E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro (estrutura cronológica).
E disse Deus (anúncio):
Faça-se um firmamento entre as águas (ordem),
e haja separação entre águas, separando uma das outras (separação).
E Deus fez o firmamento (informação).
Separou as águas debaixo do firmamento, das águas acima do firmamento. E assim
se fez. Ao firmamento Deus chamou céu (nomeação).
Houve uma tarde e uma manhã: o segundo dia. (estrutura
cronológica).
E, assim, toda a narrativa da criação segue esse padrão, dentro de uma
ordem cronológica, porquanto Deus não cria no tempo, mas com o tempo.
* E
disse Deus (anúncio)
E disse Deus é o termo empregado pelo autor do texto para
descrever a criação de algo, objetivando transmitir a ideia de criação pela
palavra.
Ao preferir a expressão E
disse Deus, quando poderia usar a expressão Deus criou, o
autor demonstra que basta a vontade de Deus para que algo se verifique no
universo.
No entanto, é curioso notar a esse
respeito, vários outros textos do velho testamento, em que há referência
a palavra de Deus, como se a palavra de
Deus fosse uma entidade, um ser, e não uma emissão sonora.
Exemplo
E veio a mim a palavra
de Deus, dizendo Filho do homem,
dirige o teu rosto para os montes de Israel, e profetiza contra eles. (Ezequiel 6:1 e 2).
E veio a palavra do SENHOR segunda
vez a Jonas, dizendo (Jonas 3:1).
Enviou a sua palavra, e
os sarou; e os livrou da sua destruição. (Salmos 107:20).
A narrativa de João, no Novo
Testamento, inicia-se com referência a palavra,
empregada agora como Verbo (Logos, no grego, significava inicialmente a palavra escrita
ou falada - Verbo).
No princípio era o Verbo,
e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus. João 1:1
E o Verbo se fez
carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do
Pai, cheio de graça e de verdade.
Segundo João, Jesus era o
Verbo. Neste sentido, compreende-se a narrativa do primeiro capítulo, do
livro Genesis, onde está escrito: E disse Deus… (criação do planeta,
todas as espécies aqui existentes, o sol, as águas, o céu, e tudo que existe)
no sentido de que Deus opera por meio de seus executores, os Cristos do
universo cósmico.
Então, a frase “E disse
Deus”, corresponde ao comando divino dirigido aos espíritos que
estão no grau evolutivo dos Cristos, para a execução de seus planos, de seus
desígnios, de sua vontade. Assim, Deus determina - E disse Deus,
faça-se - e os espíritos executores, do mais alto escalão
espiritual cumprem a vontade do Pai- e se fez o céu, a terra, os
animais, o homem...-.
No livro Evolução em Dois Mundos,
o espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, no capítulo
primeiro, descreve a criação do mundo por espíritos que estão em comunhão
indescritível[1]com Deus:
Essas Inteligências Gloriosas [2]tomam o plasma divino e convertem-no em
habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou obscuras,
gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas, quais moradias que
perduram por milênios e milênios, mas que se desgastam e se transformam, por
fim, de vez que o Espírito Criado pode formar ou co-criar, mas só Deus é o
Criador de Toda a Eternidade.
Na revista espírita de 1868, página 48, o
espírito Lacordaire, afirma que os espíritos que chegaram ao
mais alto grau de evolução, na hierarquia celeste, os Messias, são espíritos
infalíveis, mesmo quando encarnados, e recebem diretamente a palavra
de Deus que ficam encarregados de transmitir e fazer cumprir.
No próprio livro Genesis é
possível constatar essa afirmação pela leitura do versículo 26, do capitulo 1,
onde o narrador emprega verbo FAZER na segunda pessoa do plural: Façamos
o homem a nossa imagem e semelhança. Essa frase transmite a ideia
de que Deus não estava operando sozinho.
Outro detalhe interessante, a
respeito deste versículo 26, do Capitulo I, é que em Hebraico a palavra Deus
é escrita pelas letras: EL. No entanto, o original do texto gênesis
escrito em hebraico, traz a palavra escrita no plural, pois usa a
expressão ELOHIM (em Hebraico) = El + Iah + im (im é indicação
de plural).
Seguindo a padronização do texto, após o anuncio,
segue a ordem, o mandamento:
Após o anuncio E DISSE DEUS…. Haja Luz....
etc....houve luz.
Impossível de se descrever, ou seja, nem mesmo o maior de todos os sábios humanos, nem mesmo a maior ciência ou filosofia que conhecemos é possível descrever essa comunhão. Trata-se de algo completamente incompreensível pela nossa consciência.
As inteligências divinas são aquelas que
entraram em comunhão indescritível com Deus. Este processo torna o espírito UM
com o PAI. Por isso Jesus dizia eu e o Pai somos um. O objetivo da doutrina
espírita é estimular a todos nós a intensificar a nossa comunhão com Deus.
* A
execução da vontade divina
Compreendendo que os espíritos da ordem dos Cristos
são os executores da vontade divina, não há dúvida de que seu cumprimento segue
uma lei universal, que rege todas as coisas do universo. A lei divina é única.
A lei que rege o mundo subatômico é a mesma que rege as galáxias, o núcleo
celular e orienta todos os planos da criação. A lei que rege o mundo superior é
a mesma lei que rege o mundo inferior, que será, no futuro, igualmente
superior. A criação se desdobra segundo uma ordem: o principio das leis
divinas.
A lei de amor está em tudo. No átomo é a lei de
atração. A força que atrai o elétron ao núcleo, força que atrai o próton e o
nêutron ao núcleo, são expressões da lei de amor, com o nome força eletromagnética,
força forte e forca fraca. A energia (Força de Atração da Gravidade) que faz
com que o planeta seja atraído pelo sol e os planetas atraídos uns aos outros é
também lei de amor, com o nome de Força de Atração da Gravidade.
Assim, a força que atrai dois seres, nas mais
variadas expressões de amor, decorre da mesma lei, porque embora a diversidade
seja infinita, só há um Autor, um só Compositor, e em tudo está o traço de
Deus.
Para a compreensão da narrativa do livro Gênesis a
doutrina espírita contribui ao revelar que dois seriam os elementos gerais do
Universo: a matéria e o espírito, e acima de tudo, Deus, o Criador, o Pai de
todas as coisas.
Deus, espírito e matéria constituem, portanto, o
princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas - lembram os imortais
- ao elemento material é preciso juntar o fluido universal,
que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria
propriamente dita, que é por demais grosseira para que o espírito possa exercer
ação sobre ela.
O Fluido cósmico é abordado pelo espírito André
Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, psicografia Chico Xavier, oportunidade
em que o benfeitor usa três simbologias para tentar definir fluido cósmico
universal: plasma, hausto do criador, força nervosa do todo sábio.
Simplificando toda essa complexidade, é possível
dizer que:
O plasma é, atualmente,
considerado o quarto estado da matéria, ou seja, está além
do estado gasoso. Pode-se considerar, assim, que esse plasma mencionado pelo
espírito André Luiz se refere a um estado sutilíssimo da matéria do
qual o universo é composto.
O outro termo utilizado, na referida obra, é
hausto, cujo significado trazido pelo dicionário comum é aspiração. Assim, ao
definir fluido cósmico como hausto do criador, André Luiz
objetiva dar a ideia de que o fluido cósmico é a respiração divina,
o meio onde tudo na natureza vive e se movimenta.
Por fim, com o termo força nervosa do
Todo Sábio, André Luiz, por meio de analogia, tece considerações
sobre a rede nervosa que conecta todo o corpo físico, por onde circula impulsos
elétricos que são emitidos e captados pelo cérebro, de forma que o cérebro
capta tudo o que acontece em qualquer extremidade do corpo. É possível
considerar, analogicamente, o universo como um corpo físico e o fluido cósmico
como uma rede neural que conecta todas as criaturas ao criador. Assim, tudo o
que acontece em qualquer lugar do universo infinito é de conhecimento de Deus.
Paulo de Tarso, quando falava aos atenienses,
afirmou que em Deus vivemos, nos movemos e existimos (Atos dos
Apóstolos,17:28).
Estudo baseado nas traduções de Haroldo Dutra que estão disponíveis em formato de vídeo no youtube.
Imagem: Google.
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