segunda-feira, 22 de junho de 2020

Gênesis sob a ótica Espírita Parte 2

Esta será uma série de textos que iremos publicar baseados nos estudos e traduções que nosso amado Haroldo Dutra está realizando, enriquecendo grandemente a literatura espírita. Peço de antemão, que tenham a mente aberta para a leitura, e abracem com o coração estes ensinamentos aqui descritos. Boa Leitura!!





* Processo da criação

Inicialmente, torna-se imperioso destacar que o relato do livro de Gênesis sobre a criação eliminou do pensamento humano a ideia da idolatria, embora levasse tempo até prevalecer.  O livro de Gênesis se traduz na linha divisória entre a inteligência contemporânea e a confusão primitiva no domínio das coisas primeiras e últimas.
O livro de Gênesis aponta uma visão mística da origem das coisas, expressada através das palavras mais cristalinas e incisivas, acessíveis à mente infantil e inspiradoras à inteligência adultas, suficientemente claras para subsistir em eras primitivas, e profundas o bastante para desafiar culturas desenvolvidas. (Severino Celestino, Bereshit, pag. 24).
O relato da criação está descrito no capítulo 1 até o capítulo 2, versículo 4. A primeira observação que se destaca, nesse relato, é que a criação tem um processo, segue em padrão.
O padrão adotado pelo narrador segue a seguinte ordem: anuncio, ordem, separação, informação, nomeação, avaliação e depois uma estrutura cronológica.
Assim, constata-se que todas as vezes que Deus cria algo, o texto inicia-se com um anúncio: E disse Deus
No princípio criou Deus o céu e a terra.
E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.

E disse Deus (anúncio): Haja luz (ordem); e houve luz (informação).
E viu Deus que era boa a luz (avaliação) e fez Deus separação entre a luz e as trevas (separação)
E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite (nomeação). E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro (estrutura cronológica).

E disse Deus (anúncio): Faça-se um firmamento entre as águas (ordem), e haja separação entre águas, separando uma das outras (separação).
E Deus fez o firmamento (informação). Separou as águas debaixo do firmamento, das águas acima do firmamento. E assim se fez. Ao firmamento Deus chamou céu (nomeação). Houve uma tarde e uma manhã: o segundo dia. (estrutura cronológica).

E, assim, toda a narrativa da criação segue esse padrão, dentro de uma ordem cronológica, porquanto Deus não cria no tempo, mas com o tempo.

* E disse Deus (anúncio)


E disse Deus é o termo empregado pelo autor do texto para descrever a criação de algo, objetivando transmitir a ideia de criação pela palavra.
Ao preferir a expressão E disse Deus, quando poderia usar a expressão Deus criou, o autor demonstra que basta a vontade de Deus para que algo se verifique no universo.
No entanto, é curioso notar a esse respeito, vários outros textos do velho testamento, em que há referência a palavra de Deus, como se a palavra de Deus fosse uma entidade, um ser, e não uma emissão sonora.
Exemplo
E veio a mim a palavra de Deus, dizendo Filho do homem, dirige o teu rosto para os montes de Israel, e profetiza contra eles. (Ezequiel 6:1 e 2).
E veio a palavra do SENHOR segunda vez a Jonas, dizendo (Jonas 3:1).
Enviou a sua palavra, e os sarou; e os livrou da sua destruição. (Salmos 107:20).

A narrativa de João, no Novo Testamento, inicia-se com referência a palavra, empregada agora como Verbo (Logos, no grego, significava inicialmente palavra escrita ou falada - Verbo).
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. João 1:1
E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.

Segundo João, Jesus era o Verbo. Neste sentido, compreende-se a narrativa do primeiro capítulo, do livro Genesis, onde está escrito: E disse Deus… (criação do  planeta, todas as espécies aqui existentes, o sol, as águas, o céu, e tudo que existe) no sentido de que Deus opera por meio de seus executores, os Cristos do universo cósmico.
Então, a frase “E disse Deus”, corresponde ao comando divino dirigido aos espíritos que estão no grau evolutivo dos Cristos, para a execução de seus planos, de seus desígnios, de sua vontade. Assim, Deus determina - E disse Deus, faça-se - e os espíritos executores, do mais alto escalão espiritual cumprem a vontade do Pai- e se fez o céu, a terra, os animais, o homem...-.
No livro Evolução em Dois Mundos, o espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, no capítulo primeiro, descreve a criação do mundo por espíritos que estão em comunhão indescritível[1]com Deus:
Essas Inteligências Gloriosas [2]tomam o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas, quais moradias que perduram por milênios e milênios, mas que se desgastam e se transformam, por fim, de vez que o Espírito Criado pode formar ou co-criar, mas só Deus é o Criador de Toda a Eternidade.

Na revista espírita de 1868, página 48, o espírito Lacordaire, afirma que os espíritos que chegaram ao mais alto grau de evolução, na hierarquia celeste, os Messias, são espíritos infalíveis, mesmo quando encarnados, e recebem diretamente a palavra de Deus que ficam encarregados de transmitir e fazer cumprir.
No próprio livro Genesis é possível constatar essa afirmação pela leitura do versículo 26, do capitulo 1, onde o narrador emprega verbo FAZER na segunda pessoa do plural: Façamos o homem a nossa imagem e semelhança. Essa frase transmite a ideia de que Deus não estava operando sozinho.
Outro detalhe interessante, a respeito deste versículo 26, do Capitulo I,   é que em Hebraico a palavra Deus é escrita pelas letras: EL. No entanto, o original do texto gênesis escrito em hebraico, traz a palavra escrita no plural, pois usa a expressão ELOHIM (em Hebraico) = El + Iah + im (im é indicação de plural).
Seguindo a padronização do texto, após o anuncio, segue a ordem, o mandamento:
Após o anuncio E DISSE DEUS…. Haja Luz.... etc....houve luz.

Impossível de se descrever, ou seja, nem mesmo o maior de todos os sábios humanos, nem mesmo a maior ciência ou filosofia que conhecemos é possível descrever essa comunhão. Trata-se de algo completamente incompreensível pela nossa consciência.
 As inteligências divinas são aquelas que entraram em comunhão indescritível com Deus. Este processo torna o espírito UM com o PAI. Por isso Jesus dizia eu e o Pai somos um. O objetivo da doutrina espírita é estimular a todos nós a intensificar a nossa comunhão com Deus.


* A execução da vontade divina


Compreendendo que os espíritos da ordem dos Cristos são os executores da vontade divina, não há dúvida de que seu cumprimento segue uma lei universal, que rege todas as coisas do universo. A lei divina é única. A lei que rege o mundo subatômico é a mesma que rege as galáxias, o núcleo celular e orienta todos os planos da criação. A lei que rege o mundo superior é a mesma lei que rege o mundo inferior, que será, no futuro, igualmente superior. A criação se desdobra segundo uma ordem: o principio das leis divinas.
A lei de amor está em tudo. No átomo é a lei de atração. A força que atrai o elétron ao núcleo, força que atrai o próton e o nêutron ao núcleo, são expressões da lei de amor, com o nome força eletromagnética, força forte e forca fraca. A energia (Força de Atração da Gravidade) que faz com que o planeta seja atraído pelo sol e os planetas atraídos uns aos outros é também lei de amor, com o nome de Força de Atração da Gravidade.
Assim, a força que atrai dois seres, nas mais variadas expressões de amor, decorre da mesma lei, porque embora a diversidade seja infinita, só há um Autor, um só Compositor, e em tudo está o traço de Deus.
Para a compreensão da narrativa do livro Gênesis a doutrina espírita contribui ao revelar que dois seriam os elementos gerais do Universo: a matéria e o espírito, e acima de tudo, Deus, o Criador, o Pai de todas as coisas.
Deus, espírito e matéria constituem, portanto, o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas - lembram os imortais - ao elemento material é preciso juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita, que é por demais grosseira para que o espírito possa exercer ação sobre ela.
O Fluido cósmico é abordado pelo espírito André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, psicografia Chico Xavier, oportunidade em que o benfeitor usa três simbologias para tentar definir fluido cósmico universal: plasma, hausto do criador, força nervosa do todo sábio.
Simplificando toda essa complexidade, é possível dizer que:
plasma é, atualmente, considerado o quarto estado da matéria, ou seja, está além do estado gasoso. Pode-se considerar, assim, que esse plasma mencionado pelo espírito André Luiz se refere a um estado sutilíssimo da matéria do qual o universo é composto.
O outro termo utilizado, na referida obra, é hausto, cujo significado trazido pelo dicionário comum é aspiração. Assim, ao definir fluido cósmico como hausto do criador, André Luiz objetiva dar a ideia de que o fluido cósmico é a respiração divina, o meio onde tudo na natureza vive e se movimenta.
Por fim, com o termo força nervosa do Todo Sábio, André Luiz, por meio de analogia, tece considerações sobre a rede nervosa que conecta todo o corpo físico, por onde circula impulsos elétricos que são emitidos e captados pelo cérebro, de forma que o cérebro capta tudo o que acontece em qualquer extremidade do corpo. É possível considerar, analogicamente, o universo como um corpo físico e o fluido cósmico como uma rede neural que conecta todas as criaturas ao criador. Assim, tudo o que acontece em qualquer lugar do universo infinito é de conhecimento de Deus.
Paulo de Tarso, quando falava aos atenienses, afirmou que em Deus vivemos, nos movemos e existimos (Atos dos Apóstolos,17:28).


Estudo baseado nas traduções de Haroldo Dutra que estão disponíveis em formato de vídeo no youtube.

Imagem: Google.

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