APOMETRIA E ESPIRITISMO
Estabelecer uma correlação entre Apometria e
Espiritismo, além de ser algo difícil, devido a profundidade e novidade dos
dois temas, é sempre um desafio, isso por que qualquer conhecimento novo tende
a ser inicialmente combatido e rejeitado. Não procuraremos nesta oportunidade
discorrer sobre os vários preceitos e postulados do Espiritismo, pois existe
abundante material versando sobre o tema. Aqui interessa-nos mais as relações
entre a Apometria e o Espiritismo e como estas duas correntes podem caminhar
juntas.
A Apometria é muito mais uma metodologia de trabalho
ou um conjunto de princípios voltados para técnicas do que propriamente uma
doutrina codificada. Já o Espiritismo, por seu lado, possui um aspecto teórico
e outro prático, ambos equilibrando-se e complementando-se. A Apometria é um
saber extremamente prático e possui abertura suficiente para a construção de um
campo doutrinário a partir das experiências que vão sendo realizadas com suas
técnicas. Porém, talvez seja mais enriquecedor trabalhar com um conhecimento
mais prático, que não se prende a dogmas ou a principios pré-estabelecidos. Com
uma doutrina codificada, temos de caminhar da teoria para a prática, da
revelação para a experiência, do conhecimento para a confirmação direta deste.
A Apometria, ao contrário, é uma ferramenta que nos auxilia a ir do prático
para a construção e reconstrução do teórico. Cada pessoa pode ter suas próprias
experiências, ir diretamente verificar a validade de cada principio, posto que
ela foi preparada para ser muito mais um instrumento, um meio, do que uma
sistema. Dessa forma, a Apometria nos orienta e nos conduz para mais perto da
base de onde emana todo o saber. Com a Apometria, não há tanta necessidade de
crer para depois experimentar, é possível experimentar e dispensar mais
rapidamente a crença.
Isso não significa que a Apometria não tenha sua
própria base, porém, ela bebe de várias fontes e se configura como um sistema
aberto que procura manter sua coesão a partir da experimentação de suas
técnicas. O Espiritismo é uma doutrina que procura uma interpretação mais
profunda do cristianismo, indo mais diretamente a fonte dos ensinamentos do
Cristo. A Apometria, embora seja cristã, não se foca apenas nos ensinamentos de
Jesus, mas de todos os grandes Mestres do passado e do presente que inspiraram
a criação das diversas religiões e correntes de pensamento.
Espiritismo é basicamente mediúnico. O componente
anímico é praticamente repudiado em alguns meios espíritas. Acredita-se que o animismo é
uma interferência da subjetividade do médium dentro do processo de conexão
espiritual. Apometria procura mesclar a mediunidade com o animismo, criando uma
terapêutica medianímica. O anímico e o mediúnico são duas faces de um mesmo
processo de contato com diferentes planos de consciência. A Apometria não usa
propriamente a mediunidade, mas também não a dispensa caso ela se apresente.
Porém, a tendência dentro dos trabalhos apométricos é a utilização mais
generalizada da vidência, no sentido da “visualização” dos planos sutis para a
atuação através de energias e técnicas de depuração e harmonização dos níveis
de consciência.
O Espiritismo descreve o desdobramento espiritual,
mas não aprofunda em sua utilização prática. A Apometria fundamenta uma boa
parcela de suas pesquisas no manejo do desdobramento, suas propriedades e
aplicações. Porém, o sentido que se dá ao desdobramento no Espiritismo é apenas
a saída consciente ou inconsciente do perispírito durante o estado onírico, o
que se chama de desdobramento ou emancipação da alma. Na Apometria o
desdobramento não se restringe apenas ao perispírito e ao corpo astral, mas aos
múltiplos níveis e subníveis, além de desdobrar personalidades de vidas
passadas e subpersonalidades. Tanto o Espiritismo quanto a Apometria realizam a
desobsessão, porém na Apometria a desobsessão é encarada de forma mais ampla.
Existe na Apometria o conceito de desobsessão complexa, que aborda elementos
que não se limitam apenas à atuação de um espírito sobre o outro.
Assim, a Apometria utiliza o desdobramento
atuando no plano espiritual de forma mais simples e direta. O Espiritismo,
apesar de abordar o tema, não apresenta os meios e as aplicações para a
efetivação desse tipo de trabalho.
Dr. José Lacerda denomina-se espírita, embora não
seguisse a risca todos os ensinamentos do Espiritismo. Dr Lacerda acreditava
que o Espiritismo, mais do que uma religião ou uma filosofia, é uma realidade
cósmica, transcendente, base e fundamento da cadeia de funcionamento dos
mundos, planos, formas e vidas. O próprio Allan Kardec definiu o Espiritismo
como tendo um aspecto moral ou religioso, filosófico e científico. Se o
Espiritismo não está em nenhum destes três aspectos em separado, mas em uma
tríade de amplitude irredutível aos seus revestimentos exteriores, então
podemos considerar que o Dr. Lacerda estava correto ao validar o Espiritismo
como um conjunto de leis e princípios que formam uma essencial unidade do real.
Porém, apesar de ter o Espiritismo na mais alta conta, Dr. Lacerda faz duras
críticas aos espíritas ortodoxos e conservadores, que pretendem ser o
Espiritismo uma doutrina fechada que não admite revisões e avanços. Sendo o
Espiritismo uma doutrina codificada por uma inteligência humana, que tem suas
fraquezas e limitações, não pode ser completo e perfeito.
O Espiritismo foi codificado dentro de uma
metodologia mediúnica, de contato direto e objetivo com o plano espiritual. O
que aconteceria se mais pesquisadores utilizassem essas mesmas investigações
com base mediúnica ou anímica para esclarecer a humanidade aprofundando em
velhas perguntas e formulando novos questionamentos sobre temas emergentes da
atualidade? Certamente teríamos respostas mais aprofundadas e outras que
poderiam escapar da origem da doutrina espírita, pois o entendimento do ser
humano no grau de consciência em que se encontra no presente abarca uma série
de campos de conhecimento e compreensão que não existiam no século XIX. Nesse
sentido, o Espiritismo deve deixar de lado seu rótulo doutrinário fechado e
passar a ser uma metodologia investigativa dinâmica e pluralista.
Talvez a intenção dos espíritas mais conservadores
seja não permitir que o Espiritismo seja engolido pelas novidades
espiritualistas que aparecem com a rapidez do pensamento e da criatividade de
certos autores oportunistas. Muitos aproveitadores de plantão se apropriam de
uma base esotérica ou espiritualista já existente e dão um revestimento
levemente diferente e criam novidades, com novos nomes e formas. A casca
exterior difere da original, mas a essência do ensinamento é rigorosamente a
mesma.
De qualquer forma, ao contrário que muitos
acreditam, o Espiritismo tem, em sua origem, um caráter progressista, conforme
assinalado nas obras básicas. Alguns espíritas mais conservadores são até mesmo
contrários ao que denominam de “obras complementares”, afirmando que apenas a
codificação de Kardec contém a base essencial que pode ser definida como
espírita. A verdade é que esse dogmatismo só atrapalha o progresso do
Espiritismo, fecha perspectivas e impede a abertura de novos campos de
investigação. O próprio Kardec afirma “O Livro dos Espíritos não é um
tratado completo do Espiritismo; não faz senão colocar-lhe as bases e os pontos
fundamentais, que devem se desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela
observação.” Allan Kardec – Revista Espírita, Julho de 1866 – Visão
Retrospectiva das Existências dos Espíritos.
Em “A Gênese”, cap. I, item 13, Kardec explica “(…)
enfim, porque a doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega;
porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os
Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que
ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio as ilações e
aplicações.”
Ainda em “A Gênese” Capítulo I, item 55, Kardec
define a questão dizendo: “Um último caráter da revelação espírita, a ressaltar
das condições mesmas em que ela se produz, é que, apoiando-se em fatos, tem que
ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as
ciências de observação. “
Assim, fica claro que o próprio codificador
repudiava a estagnação e desejava que o movimento fosse progressista, inovador
e principalmente, investigador. A base não fecha o conhecimento, ao contrário,
ela dá suporte para que mais e mais fatos e conhecimentos sejam pesquisados,
pela via da experiência direta ou por pesquisas junto a espíritos mais
adiantados, trazendo tanto um aprofundamento das verdades já conhecidas, quanto
novos conhecimentos que não eram possíveis de ser revelados na metade do século
XIX.
Muitas vezes, espíritas mais conservadores perdem um
precioso tempo procurando fortificar as fronteiras do Espiritismo em relação ao
que há de exterior a ele do que propriamente concentrar sua atenção naquilo que
tem valor: a essência dos princípios ensinados na codificação, que nem sequer
podemos considerar como princípios espíritas, diante do grande número de correntes
de pensamento que as ensinam de uma forma ou de outra. Não há um princípio
espírita, um espírito budista, um princípio hermético, um principio ou lei
rosacruz etc. O que há são tentativas de descrever as leis que regem o
Universo, que em última análise, não pertencem a qualquer doutrina ou sistema
revelado, mas são naturais e não tem dono.
Apesar deste processo, existem conhecimentos mais
profundos que se assemelham ao Espiritismo e encontram paralelo com algumas ideias
espíritas, tornando as similaridades impossíveis de não serem notadas. Temos
como exemplo a Transcomunicação Instrumental, a Projeciologia, o pensamento
universalista de Ramatis, a Regressão a Vidas Passadas, algumas terapias
holísticas com o Reiki que se assemelha ao passe magnético, acupuntura,
florais, cromoterapia, terapia com cristais, trabalhos de anti-goécia, a
Ufologia esotérica, a Umbanda e a Aumbandã (Proto-Síntese Cósmica), a própria
Apometria, as EQMs (as Experiências de Quase Morte), a canalização ou
chanelling etc.
Todos estes conhecimentos e práticas estão
acessíveis nos dias de hoje e vem trazer uma nova visão sobre princípios e ideias
que o Espiritismo ensina desde sua codificação. Tudo isso aponta para uma
aproximação do Espiritismo com outras áreas do saber humano e espiritual, das
quais os espíritas não podem mais ignorar. Obviamente é importante não deixar
que o Espiritismo se dissolva dentro desse quadro maior, mas jamais devemos
esquecer que a base do Espiritismo são seus princípios e não a forma como estes
são apresentados. “A letra mata, o espírito
vivifica”. Se os mesmos princípios e
leis que o Espiritismo transmite a humanidade forem apresentados com uma nova
roupagem porém conservando sua verdade, qual a diferença de nomeá-los
como Espiritismo, Umbanda, Teosofia, Cabala, Gnose, Hermetismo, Alquimia,
Druidismo etc.?
Quanto mais estudamos e praticamos o desdobramento
consciente, a vidência, a mediunidade, a psicografia, clariaudiência etc, mais
descobrimos que podemos a qualquer momento estabelecer esse contato com o plano
espiritual de forma simples e eficiente. A Apometria vem demonstrar o quanto
podemos desbravar terrenos ainda desconhecidos na prática em vez de
permanecermos lendo durante anos livros antigos em bibliotecas empoeiradas.
Questionemos aos próprios espíritas se preferem conhecer fatos e energias
diretamente percebendo o plano espiritual ou se preferem apenas acreditar na
visão psíquica que outros realizaram e vejamos a resposta que eles darão. Tudo
no Universo aproxima e inspira o contato cada vez mais estreito com uma
realidade superior. As religiões do mundo estão cada vez mais cedendo lugar a
escolas de pensamento que propõem um acesso mais nuclear da realidade do
espírito. As pessoas não desejam mais crer apenas – elas buscam vivenciar,
descobrir por si mesmas, ver a realidade com seus próprios olhos interiores.
Esse contato indireto com o plano espiritual algumas
vezes acarreta uma perigosa dependência dos mentores espirituais e da equipe
invisível. Muitos espíritas acreditam que é muito mais seguro delegar a
responsabilidade para os espíritos de luz do que realizar o trabalho. Toda
dependência é problemática, não importa a que ela se refira. Mesmo a confiança
absoluta em espíritos superiores pode indicar uma falta de confiança no
trabalho que se realiza no centro. Confiança extrema no outro pode sinalizar
uma falta de confiança em si mesmo. Devemos sempre lembrar que estamos num
caminho evolutivo e tudo que os mentores atingiram em grau de evolução
espiritual nós também devemos alcançar. Tudo o que praticamos nos centros
espíritas deve servir para nosso adiantamento e não apenas para curas e
tratamentos. A evolução espiritual através da reforma íntima é o mais nobre
forma de empregar nosso tempo e energia.
Texto retirado da nossa segunda apostila de estudo apométrica.
Foto: Espaço Bambuí.
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