terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Apometria e Espiritismo




APOMETRIA E ESPIRITISMO

Estabelecer uma correlação entre Apometria e Espiritismo, além de ser algo difícil, devido a profundidade e novidade dos dois temas, é sempre um desafio, isso por que qualquer conhecimento novo tende a ser inicialmente combatido e rejeitado. Não procuraremos nesta oportunidade discorrer sobre os vários preceitos e postulados do Espiritismo, pois existe abundante material versando sobre o tema. Aqui interessa-nos mais as relações entre a Apometria e o Espiritismo e como estas duas correntes podem caminhar juntas.

A Apometria é muito mais uma metodologia de trabalho ou um conjunto de princípios voltados para técnicas do que propriamente uma doutrina codificada. Já o Espiritismo, por seu lado, possui um aspecto teórico e outro prático, ambos equilibrando-se e complementando-se. A Apometria é um saber extremamente prático e possui abertura suficiente para a construção de um campo doutrinário a partir das experiências que vão sendo realizadas com suas técnicas. Porém, talvez seja mais enriquecedor trabalhar com um conhecimento mais prático, que não se prende a dogmas ou a principios pré-estabelecidos. Com uma doutrina codificada, temos de caminhar da teoria para a prática, da revelação para a experiência, do conhecimento para a confirmação direta deste. 

A Apometria, ao contrário, é uma ferramenta que nos auxilia a ir do prático para a construção e reconstrução do teórico. Cada pessoa pode ter suas próprias experiências, ir diretamente verificar a validade de cada principio, posto que ela foi preparada para ser muito mais um instrumento, um meio, do que uma sistema. Dessa forma, a Apometria nos orienta e nos conduz para mais perto da base de onde emana todo o saber. Com a Apometria, não há tanta necessidade de crer para depois experimentar, é possível experimentar e dispensar mais rapidamente a crença.

Isso não significa que a Apometria não tenha sua própria base, porém, ela bebe de várias fontes e se configura como um sistema aberto que procura manter sua coesão a partir da experimentação de suas técnicas. O Espiritismo é uma doutrina que procura uma interpretação mais profunda do cristianismo, indo mais diretamente a fonte dos ensinamentos do Cristo. A Apometria, embora seja cristã, não se foca apenas nos ensinamentos de Jesus, mas de todos os grandes Mestres do passado e do presente que inspiraram a criação das diversas religiões e correntes de pensamento.

Espiritismo é basicamente mediúnico. O componente anímico é praticamente repudiado em alguns  meios espíritas. Acredita-se que o animismo é uma interferência da subjetividade do médium dentro do processo de conexão espiritual. Apometria procura mesclar a mediunidade com o animismo, criando uma terapêutica medianímica. O anímico e o mediúnico são duas faces de um mesmo processo de contato com diferentes planos de consciência. A Apometria não usa propriamente a mediunidade, mas também não a dispensa caso ela se apresente. Porém, a tendência dentro dos trabalhos apométricos é a utilização mais generalizada da vidência, no sentido da “visualização” dos planos sutis para a atuação através de energias e técnicas de depuração e harmonização dos níveis de consciência.

O Espiritismo descreve o desdobramento espiritual, mas não aprofunda em sua utilização prática. A Apometria fundamenta uma boa parcela de suas pesquisas no manejo do desdobramento, suas propriedades e aplicações. Porém, o sentido que se dá ao desdobramento no Espiritismo é apenas a saída consciente ou inconsciente do perispírito durante o estado onírico, o que se chama de desdobramento ou emancipação da alma. Na Apometria o desdobramento não se restringe apenas ao perispírito e ao corpo astral, mas aos múltiplos níveis e subníveis, além de desdobrar personalidades de vidas passadas e subpersonalidades. Tanto o Espiritismo quanto a Apometria realizam a desobsessão, porém na Apometria a desobsessão é encarada de forma mais ampla. Existe na Apometria o conceito de desobsessão complexa, que aborda elementos que não se limitam apenas à atuação de um espírito sobre o outro.

Assim, a Apometria  utiliza o desdobramento atuando no plano espiritual de forma mais simples e direta. O Espiritismo, apesar de abordar o tema, não apresenta os meios e as aplicações para a efetivação desse tipo de trabalho.

Dr. José Lacerda denomina-se espírita, embora não seguisse a risca todos os ensinamentos do Espiritismo. Dr Lacerda acreditava que o Espiritismo, mais do que uma religião ou uma filosofia, é uma realidade cósmica, transcendente, base e fundamento da cadeia de funcionamento dos mundos, planos, formas e vidas. O próprio Allan Kardec definiu o Espiritismo como tendo um aspecto moral ou religioso, filosófico e científico. Se o Espiritismo não está em nenhum destes três aspectos em separado, mas em uma tríade de amplitude irredutível aos seus revestimentos exteriores, então podemos considerar que o Dr. Lacerda estava correto ao validar o Espiritismo como um conjunto de leis e princípios que formam uma essencial unidade do real. Porém, apesar de ter o Espiritismo na mais alta conta, Dr. Lacerda faz duras críticas aos espíritas ortodoxos e conservadores, que pretendem ser o Espiritismo uma doutrina fechada que não admite revisões e avanços. Sendo o Espiritismo uma doutrina codificada por uma inteligência humana, que tem suas fraquezas e limitações, não pode ser completo e perfeito.

O Espiritismo foi codificado dentro de uma metodologia mediúnica, de contato direto e objetivo com o plano espiritual. O que aconteceria se mais pesquisadores utilizassem essas mesmas investigações com base mediúnica ou anímica para esclarecer a humanidade aprofundando em velhas perguntas e formulando novos questionamentos sobre temas emergentes da atualidade? Certamente teríamos respostas mais aprofundadas e outras que poderiam escapar da origem da doutrina espírita, pois o entendimento do ser humano no grau de consciência em que se encontra no presente abarca uma série de campos de conhecimento e compreensão que não existiam no século XIX. Nesse sentido, o Espiritismo deve deixar de lado seu rótulo doutrinário fechado e passar a ser uma metodologia investigativa dinâmica e pluralista.

Talvez a intenção dos espíritas mais conservadores seja não permitir que o Espiritismo seja engolido pelas novidades espiritualistas que aparecem com a rapidez do pensamento e da criatividade de certos autores oportunistas. Muitos aproveitadores de plantão se apropriam de uma base esotérica ou espiritualista já existente e dão um revestimento levemente diferente e criam novidades, com novos nomes e formas. A casca exterior difere da original, mas a essência do ensinamento é rigorosamente a mesma.

De qualquer forma, ao contrário que muitos acreditam, o Espiritismo tem, em sua origem, um caráter progressista, conforme assinalado nas obras básicas. Alguns espíritas mais conservadores são até mesmo contrários ao que denominam de “obras complementares”, afirmando que apenas a codificação de Kardec contém a base essencial que pode ser definida como espírita. A verdade é que esse dogmatismo só atrapalha o progresso do Espiritismo, fecha perspectivas e impede a abertura de novos campos de investigação. O próprio Kardec afirma “O Livro dos Espíritos não é um tratado completo do Espiritismo; não faz senão colocar-lhe as bases e os pontos fundamentais, que devem se desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação.” Allan Kardec – Revista Espírita, Julho de 1866 – Visão Retrospectiva das Existências dos Espíritos.

Em “A Gênese”, cap. I, item 13, Kardec explica “(…) enfim, porque a doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega; porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio as ilações e aplicações.”

Ainda em “A Gênese” Capítulo I, item 55, Kardec define a questão dizendo: “Um último caráter da revelação espírita, a ressaltar das condições mesmas em que ela se produz, é que, apoiando-se em fatos, tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação. “

Assim, fica claro que o próprio codificador repudiava a estagnação e desejava que o movimento fosse progressista, inovador e principalmente, investigador. A base não fecha o conhecimento, ao contrário, ela dá suporte para que mais e mais fatos e conhecimentos sejam pesquisados, pela via da experiência direta ou por pesquisas junto a espíritos mais adiantados, trazendo tanto um aprofundamento das verdades já conhecidas, quanto novos conhecimentos que não eram possíveis de ser revelados na metade do século XIX.

Muitas vezes, espíritas mais conservadores perdem um precioso tempo procurando fortificar as fronteiras do Espiritismo em relação ao que há de exterior a ele do que propriamente concentrar sua atenção naquilo que tem valor: a essência dos princípios ensinados na codificação, que nem sequer podemos considerar como princípios espíritas, diante do grande número de correntes de pensamento que as ensinam de uma forma ou de outra. Não há um princípio espírita, um espírito budista, um princípio hermético, um principio ou lei rosacruz etc. O que há são tentativas de descrever as leis que regem o Universo, que em última análise, não pertencem a qualquer doutrina ou sistema revelado, mas são naturais e não tem dono.

Apesar deste processo, existem conhecimentos mais profundos que se assemelham ao Espiritismo e encontram paralelo com algumas ideias espíritas, tornando as similaridades impossíveis de não serem notadas. Temos como exemplo a Transcomunicação Instrumental, a Projeciologia, o pensamento universalista de Ramatis, a Regressão a Vidas Passadas, algumas terapias holísticas com o Reiki que se assemelha ao passe magnético, acupuntura, florais, cromoterapia, terapia com cristais, trabalhos de anti-goécia, a Ufologia esotérica, a Umbanda e a Aumbandã (Proto-Síntese Cósmica), a própria Apometria, as EQMs (as Experiências de Quase Morte), a canalização ou chanelling etc.

Todos estes conhecimentos e práticas estão acessíveis nos dias de hoje e vem trazer uma nova visão sobre princípios e ideias que o Espiritismo ensina desde sua codificação. Tudo isso aponta para uma aproximação do Espiritismo com outras áreas do saber humano e espiritual, das quais os espíritas não podem mais ignorar. Obviamente é importante não deixar que o Espiritismo se dissolva dentro desse quadro maior, mas jamais devemos esquecer que a base do Espiritismo são seus princípios e não a forma como estes são apresentados. A letra mata, o espírito vivifica”. Se os mesmos princípios e leis que o Espiritismo transmite a humanidade forem apresentados com uma nova roupagem porém conservando sua verdade, qual a  diferença de nomeá-los como Espiritismo, Umbanda, Teosofia, Cabala, Gnose, Hermetismo, Alquimia, Druidismo etc.?

Quanto mais estudamos e praticamos o desdobramento consciente, a vidência, a mediunidade, a psicografia, clariaudiência etc, mais descobrimos que podemos a qualquer momento estabelecer esse contato com o plano espiritual de forma simples e eficiente. A Apometria vem demonstrar o quanto podemos desbravar terrenos ainda desconhecidos na prática em vez de permanecermos lendo durante anos livros antigos em bibliotecas empoeiradas. Questionemos aos próprios espíritas se preferem conhecer fatos e energias diretamente percebendo o plano espiritual ou se preferem apenas acreditar na visão psíquica que outros realizaram e vejamos a resposta que eles darão. Tudo no Universo aproxima e inspira o contato cada vez mais estreito com uma realidade superior. As religiões do mundo estão cada vez mais cedendo lugar a escolas de pensamento que propõem um acesso mais nuclear da realidade do espírito. As pessoas não desejam mais crer apenas – elas buscam vivenciar, descobrir por si mesmas, ver a realidade com seus próprios olhos interiores.

Esse contato indireto com o plano espiritual algumas vezes acarreta uma perigosa dependência dos mentores espirituais e da equipe invisível. Muitos espíritas acreditam que é muito mais seguro delegar a responsabilidade para os espíritos de luz do que realizar o trabalho. Toda dependência é problemática, não importa a que ela se refira. Mesmo a confiança absoluta em espíritos superiores pode indicar uma falta de confiança no trabalho que se realiza no centro. Confiança extrema no outro pode sinalizar uma falta de confiança em si mesmo. Devemos sempre lembrar que estamos num caminho evolutivo e tudo que os mentores atingiram em grau de evolução espiritual nós também devemos alcançar. Tudo o que praticamos nos centros espíritas deve servir para nosso adiantamento e não apenas para curas e tratamentos. A evolução espiritual através da reforma íntima é o mais nobre forma de empregar nosso tempo e energia.


Texto retirado da nossa segunda apostila de estudo apométrica.
Foto: Espaço Bambuí.

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