domingo, 12 de julho de 2020

Gênesis sob a ótica Espírita Parte 3

Esta será uma série de textos que iremos publicar baseados nos estudos e traduções que nosso amado Haroldo Dutra está realizando, enriquecendo grandemente a literatura espírita. Peço de antemão, que tenham a mente aberta para a leitura, e abracem com o coração estes ensinamentos aqui descritos. Boa Leitura!!





A ordem no caos (GN 1, 1-5)                 

No princípio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e o alento de Deus revoava sobre a face das águas.(GN 1, 1-5)

A criação do céu e da terra no vazio e no caos que imperava é descrito neste primeiro versículo. No versículo seguinte, o autor faz referência à água, sem que houvesse qualquer informação a respeito de sua criação, admitindo-se, assim, a preexistência da água no início da criação.
Não se trata de um equívoco ou fantasia do narrador bíblico, uma vez que é preciso considerar a diferença existente entre a narrativa hebraica e a narrativa ocidental. A primeira adota a narrativa circular ou espiral, significando dizer que após a edição de uma frase, segue-se várias repetições, acrescentando-se, em cada repetição, um novo detalhe.
Neste sentido, extrai-se, literalmente, do texto - no princípio Deus criou o céu e a Terra - a ideia de que Deus criou tudo. Isto porque, em Hebraico, não existe a palavra tudo. Para isso, ou seja, para expressar TUDO se empregou a técnica da utilização dos opostos. Por esse método, por exemplo, para se de fazer referência a todos os elementos da Terra, usa-se as expressões fogo e água; para se expressar emoções, utiliza-se os opostos pranto e alegriaDesta forma, quando o texto emprega as expressões céu e terra, quer transmitir a noção tudo que existe no planeta.
Assim, a primeira afirmação do autor bíblico corresponde a ideia de que Deus criou tudo, e, numa espiral, a frase vai se repetindo e, cada vez que se repete, uma novidade é acrescentada. Observa-se que no primeiro versículo, o autor diz que Deus criou o céu e a terra, e, nos versículos 6 a 8, o autor descreve como o céu foi criado.
Relativamente a água, não há referência sobre sua criação, evidenciando-se que que seu uso foi empregado simbolicamente para ilustrar um elemento que preexistia à criação e, com certeza, não foi descuido do autor do texto, mas um propósito transcendente.
Neste sentido, a revelação da doutrina espírita informa que o fluido cósmico universal é o elemento material portador de propriedade especiais e do qual tudo se origina. A água, inserida no texto, refere-se, sem dúvida, ao fluido cósmico universal. Ademais, o narrador bíblico não poderia ser compreendido pela mentalidade reduzida do seu povo, apontando verdades que somente mais tarde, com a aquisição da maturidade intelectual, poderia ser entendida.
 Por isso, o texto é repleto de alegorias e símbolos, razão pela qual a expressão água foi o termo encontrado pelo autor para definir um elemento que o espiritismo definiu como fluido cósmico universal, e que a ciência atual define como campo de higgs”.
No livro Boa Nova, psicografia de Chico Xavier, o espírito Humberto de Campos, capitulo 19, descreve um diálogo entre Jesus e João, onde o Mestre acentua que a água é “o símbolo mais perfeito da essência de Deus, que tanto está nos céus como na Terra.”
Portanto, a água, referida no versículo dois do primeiro capítulo, não se trata do elemento água, mas referência a um elemento à época desconhecido, definido pelo espiritismo como fluido cósmico.
No livro A Gênese, Cap. XIV, item 2, Kardec aborda o fluido cósmico e o descreve como o elemento primordial:
O fluido cósmico universal é, como já foi demonstrado, a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza. (Cap. X.) Como princípio elementar do Universo, ele assume dois estados distintos: o de eterização ou imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal, e o de materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira, consecutivo àquele. O ponto intermédio é o da transformação do fluido em matéria tangível. Mas, ainda aí, não há transição brusca, porquanto podem considerar-se os nossos fluidos imponderáveis como termo médio entre os dois estados. (Cap. IV, nos 10 e seguintes.)

A pergunta 36 do Livro dos Espíritos é ainda mais esclarecedora:

O vazio absoluto existe em alguma parte no espaço universal?  Não, nada é vazio. O que imaginais como vazio é ocupado por uma matéria que escapa aos vossos sentidos e aos vossos instrumentos.

É por isso que no livro Gênesis com frequência se encontra o emprego do verbo SEPARAR. Quando o autor do livro escreve que Deus separou as águas, a luz da escuridão, etc., está se referindo a individuação do fluido cósmico universal.
Os conceitos mais importantes de Genesis é a criação e a cocriação, igualmente tratada no Livro dos Espíritos. Só Deus cria os espíritos. Os espíritos, por sua vez, são cocriadores em plano maior e em plano menor, pois podem atuar no fluido cósmico universal de acordo com seu estado evolutivo.
 Neste sentido, no livro Evolução em Dois Mundos, Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, capitulo 1, faz importantes esclarecimentos, ensinando que tudo que existe na Terra, inclusive o tempo, foi criado seguindo as leis gerais divinas.
No livro A caminho da Luz, Emmanuel informa que a belezajunto à ordem[2]constituiu um dos traços indeléveis de toda a criação.
Nota-se, pela leitura do primeiro capítulo do livro bíblico de Gênesis, exatamente a pontuação de Emmanuel no Livro A caminho da Luz, pois a bíblia traz a descrição de Deus ordenando e estabelecendo ordem na manipulação do fluido e, assim, na criação do universo, cada elemento com sua estrutura, uns mais simples, outros mais complexos.
Deus também é provedor. Por isso se justifica a criação do planeta com toda sua beleza esplendorosa, pois os espíritos criados necessitam de um local agradável para trabalhar sua evolução.
Deus ordena, provê e comissiona, ou seja, estabelece tarefas para os seres da criação. No livro dos espíritos, a questão 132, esclarece que o objetivo da encarnação é permitir a evolução do espírito. E isso só é possível por meio das várias experiências nos corpos materiais. Por isso, cada espíritoem cada mundo, utiliza-se de um corpo material correspondente com a matéria essencial do mundo respectivo a fim de executar ali, sob esse ponto de vista, as determinações de Deus, de modo que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.
A vida corporal permite ao espírito lidar com a matéria nos seus mais diversos aspectos, conferindo-lhe experiência e sabedoria ao longo do processo evolutivo.
                 
O Alento de Deus (GN 1, 1-2)
                                                 
No versículo 2, do primeiro capítulo, está narrado que: A terra era um caos informe; sobre a face do abismo, a treva. E o alento de Deus revoava sobre a face das águas. (GN 1, 1-2).

Alento, no dicionário comum, significa expelir o ar, soprar. Daí porque o sentido do texto é descrever que Deus, ao soprar a face das águas, criou tudo.
A doutrina espírita, mantendo-se coesa com o texto bíblico revela que o fluido cósmico universal é o elemento que dá origem a tudo, céu e terra.
Compreende-se, assim, que autor do livro de Genesis pretendeu transmitir, na narrativa da criação, é que Deus, ao separar as águas, para criar o céu e tudo que está abaixo do céu, manipulava uma espécie de matéria cósmica, por meio das inteligências divinas que seguiam e executavam a sua vontade.
Por falta de qualquer outra referência, na época, o autor do livro utilizou a palavra água para vestir a ideia que pretendeu transmitir. Milênios depois, foi a vez dos espíritos da codificação vestir a mesma ideia, com o nome de fluido cósmico universal, tendo em vista a maior capacidade de compreensão humana. Atualmente a ciência tem dado o nome a essa matéria de energia escura[1].
À propósito, a questão 27 do LE, esclarece que o fluido cósmico é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.
É importante ressaltar que, de acordo com Kardec, somente determinada classe de espíritos conhece bem o fluido cósmico a ponto de manipulá-lo. Os espíritos de escala inferior usam o fluido, assim como nós, porém não sabem manipulá-lo, pois não compreendem o processo de sua manipulação.
 Os espíritos puros conhecem a lei, conhecem o processo, e podem manipular o fluido conscientemente. Há espíritos que, embora portador de alto grau de inteligência e sabedoria, não conseguem manipular o fluido, pois somente espíritos que já evoluíram intelectualmente e, sobretudo, moralmente, é que podem ter acesso às energias mais sutis.

O fluido cósmico é passível de infinitas modificações e, por isso, dá origem a tudo que existe no mundo corpóreo e incorpóreo. O períspirito e o fluido vital, que anima os corpos orgânicos, são também derivações do fluido cósmico universal. (LE, questões 68 a 70).





[1] Matéria escura é invisível, mas é tudo, ou quase tudo, pois compõe 85% do universo e o próprio universo só existe como conhecemos por causa dela. Foi por ela que a matéria comum pôde se organizar em planetas, estrelas e galáxias. No princípio, a o universo era uniforme. A gravidade adicional da matéria escura que fez com que tudo passasse a se aglomerar. Mais ou menos como um leite uniforme coalhando em grumos. "A matéria escura é nossa mãe", afirma o coautor do estudo, Hitoshi Murayama. "Sem ela, nenhuma estrela, galáxia ou mesmo nós haveríamos nascido". (Fonte http://super.abril.com.br/ciencia/cientistas-apresentam-explicacao-simples-para-a-materia-escura)

Separação do dia e da noite (GN 1, 3-5)
                     
Disse Deus: Haja luz. E houve luz. Deus viu que a luz era boa; e Deus separou a luz da treva: Deus chamou a luz “dia” e a treva “noite”. Passou uma tarde, passou uma manhã: o primeiro dia


Este versículo narra a criação de uma luz e, em seguida, separa a luz das trevas. Denomina a luz de dia e, as trevas, de noite. Nota-se, a falta de referência ao sol e tampouco à lua. Somente no versículo 14 é que o Sol e a Lua (luminares) são criados para governar o dia e a noite. Assim, é possível compreender que essa luz, criada no primeiro dia, não é uma luz física porque somente no quarto dia o sol foi criado.

 Os estudiosos entendem que essa luz, criada no primeiro dia, é uma referência a Jesus, a quem, aliás, Deus conferiu a governança da Terra, conforme revela Emmanuel, no livro A caminho da luz.
Neste sentido, o Evangelho de João 1, 1-9, transmite essa ideia de forma nítida.

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. João 1:1-5”

Matheus 4, 16, também compara Jesus à luz:

O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz, e aos que estavam detidos na região e sombra da morte, a luz raiou”.

Emmanuel, no livro Levantar e Seguir, escreveu um capítulo chamado a Luz Raiou, referindo-se ao início da missão de Jesus.

É preciso considerar que tanto o livro Genesis, como os demais livros da Bíblia, transmite uma história, que se traduz na história da evolução humana e não somente a história do povo hebreu. É preciso considerar, também, que a lei que rege o macrocosmo é a mesma lei que rege o microcosmos, como a lei que rege o mundo material é a mesma lei que rege o mundo espiritual, porque o autor dessas leis é um só, ou seja, Deus.

Neste sentido, as reflexões dos textos bíblicos devem dirigir-se, também, para o mundo íntimo.
Por isso, o livro de Gênese, ao descrever a evolução material da civilização e do planeta, também está descrevendo a evolução moral ou espiritual da criatura humana.

Sob esse aspecto, a separação da luz e das Trevas tratada no texto, se refere, igualmente, a estágios de consciência que o espírito humano desenvolve no caminho da sua evolução.

De acordo com o texto, o momento decisivo na evolução humana é justamente quando há separação da treva e da luz. No entanto, para que seja possível ao ser humano separar algo é imprescindível que tenha capacidade de distinguir, e, para distinguir, é preciso ter discernimento, ou seja, é preciso conhecer as características de um elemento e as características de outro elemento para poder separá-los.

 Na parábola do joio e do trigo, quando o trigo e o joio estão muito novos não é possível distinguir um do outro. Só depois que crescem e vão amadurecendo é que se diferenciam, sendo possível separá-los. O senhor da parábola diz para não arrancar o joio enquanto está pequeno o trigo, para não os arrancar juntos, pois neste momento não é possível distinguir um do outro. A evolução também apresenta esse desafio. A separação da treva e da luz interna não se dá no início da evolução do espirito, somente mais tarde, com a aquisição da consciência.

Joana de Angelis, no livro Psicologia da Gratidão, psicografia de Divaldo Franco, capitulo 5, referindo-se ao discernimento que proporciona o surgimento da consciência, marcando a separação da dualidade arquetípica da sombra e da luz, ensina:
Desde o momento quando ocorreu a fissão da psique dando lugar ao surgimento dos arquétipos ego e self, os pródromos da consciência começaram a ensaiar o despertamento das emoções de variado teor e significado psicológico.”

No Oriente, o discernimento que proporcionou o surgimento da consciência, está na tradição do Bagavad Gita, parte do Mahabarata, quando o mestre Krishna, dialogando com o discípulo Ardjuna, ajudou-o a penetrar na vida mística, especialmente na luta que deveria ser travada com destemor entre as virtudes (de pequeno número) e os vícios (muito mais numerosos), mediante a aplicação das forças nobres da consciência.

Na resposta da questão 120 a 122, do Livro dos Espíritos, os imortais ensinam que o livre-arbítrio se desenvolve à medida que o espírito tem consciência de si mesmo. Antes de adquirir a consciência o espírito age por determinismo.

Criação do céu, da terra e do mar (GN 1, 6-10)

Disse Deus: Exista uma abóbada entre as águas, que separe águas de águas. E Deus fez a abóbada para separar as águas abaixo das águas acima da abóbada. E assim foi. E Deus chamou à abóbada céu. Passou uma tarde, passou uma manhã: o segundo dia.
E disse Deus: Ajuntem-se num só lugar as águas abaixo do céu, e apareçam os continentes. E assim foi. E Deus chamou os continentes “Terra”, e a massa das águas chamou “mar”. E Deus viu que era bom.

A separação das águas está detalhada no tópico 5.1, do capítulo 5, neste site. No entanto, é interessante notar que o povo hebreu, durante o período em que viveu no Egito, conheceu a filosofia de Hermes Trimegisto, em especial a Lei da Correspondência:
"Aquilo que está embaixo é como aquilo que está em cima; aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo”.

Não há dúvida que esse texto foi escrito levando-se em consideração um dos maiores princípios da lei Divina, o princípio da unidade, no sentido de que não há diferença substancial entre o que está o macro e o microcosmo; a diferença pode ser de complexidade, de dimensão, pois o que existe nas esferas superiores é muito mais sutil, mais elaborado, mais desenvolvido, mais evoluído, mas é, na essência, igual aos elementos que se expressam nas faixas inferiores, ou em baixo.

Aliás, o conceito de microcosmo, elaborado pelos filósofos antigos, compreende a existência de todos os elementos que compõe o macrocosmo, de forma elaborada e complexa, como os que estão nas estruturas menores.

Interessante refletir, neste prisma, sobre as comparações entre o corpo humano, por exemplo, que possui em sua composição elementos químicos, minerais, bactérias, gases flora, etc. e o sistema solar. Há alguma identidade de funcionamento entre esses corpos ou são leis diferentes que os regem? Com certeza, são as mesmas leis que regem esses corpos, porque o autor dessas leis é Deus, ser único, absoluto.

 Aliás, no livro A Gênese, de Allan Kardec, um dos critérios estabelecidos pelo codificador, para se avaliar qualquer teoria, qualquer filosofia, ou proposta, bem como para se avaliar o grau de erro de determinada teoria, é compará-la com os atributos da divindade. Havendo algum choque, em algum ponto, é sinal de falibilidade do sistema ou da teoria. Isso porque, Deus existe no plano da unidade absoluta, inalcançável à criatura humana, de forma que toda explicação que se fizer a respeito de qualquer sistema, será sempre relativo.

Criação da flora (GN 1, 11- 13)

E Deus disse: Verdeje a terra erva verde que produza semente e árvores frutíferas, que deem frutos segundo sua espécie e que levem sementes sobre a terra. E assim foi. A terra brotou erva verde que dava semente segundo sua espécie, e as árvores que davam fruto levavam semente segundo sua espécie. E de Deus viu que era bom. Passou uma tarde, passou na manhã: o terceiro dia.

A partir desse versículo o relato da criação adentra a vida orgânica, antes ocupado apenas com a vida inorgânica. Considerando que o foco deste estudo é buscar o conteúdo espiritual dos textos, sob os aspectos das três relações, é imprescindível, para a compreensão deste versículo, sob o aspecto espírita, a orientação disponibilizada no livro Evolução em Dois Mundos, pelo espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, especialmente o capitulo terceiro, que trata do tema Primórdios da vida e Nascimento do reino vegetal
O espírito André Luiz, no estudo em questão, assinala que a evolução se dá em dois planos, material e espiritual, de tal forma que pode parecer difícil catalogar os elos da evolução examinando-a apenas sob as lentes do mundo físico. Acentua o autor espiritual que sem os ascendentes espirituais é impossível localizar, de forma precisa, a evolução material. 
Deste modo, André Luiz, ao abordar o reino vegetal, trata também da evolução do corpo espiritual, porquanto a ascensão espiritual do princípio inteligente se verifica nos reinos da criação, pois a doutrina Espírita revela que o princípio inteligente, criado simples e ignorante, se elabora nos diversos reinos, mineral, vegetal e animal, para poder atingir o reino hominal.

É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo. Admirável lei de harmonia, que ainda o nosso acanhado espírito não pode apreender em seu conjunto! (LE, 540).
Evidencia-se, assim, uma vez mais, a harmonia existente entre o texto bíblico e a doutrina espírita. Na Gênesis bíblica a criação do planeta terra inicia-se com a separação das águas, que corresponde a manipulação do fluido para criação de todos elementos minerais, indispensáveis a automação do planeta, seguindo-se à criação dos reinos mineral, vegetal, animal, até chegar no homem, exatamente como descrevem os espíritos a evolução do princípio inteligente.

A criação dos luzeiros (GN 1, 11- 13)

E Deus disse: Existam luzeiros na abóbada do céu para separar o dia da noite, para assinalar as festas, os dias e os anos; e sirvam de luzeiro na abóbada do céu para iluminar a terra. E assim foi. E Deus fez os dois luzeiros grandes: o luzeiro maior para governar o dia, o luzeiro menor para governar a noite, e as estrelas. E Deus os colocou na abóbada do céu para dar luz sobre a terra; parra governar o dia e a noite, para separar a luz da treva. E de Deus viu que era bom. Passou uma tarde, passou na manhã: o quarto dia.
                                    
A leitura do texto deste versículo revela a criação dos luzeiros para iluminar a terra, governar o dia e a noite, e marcar o tempo.
No entanto, esses luzeiros não foram nominados. Os estudiosos são unânimes em afirmar que o autor do livro Gênesis assim o fez para diminuir a importância conferida, pelos povos da época, ao sol, a lua e as estrelas.
 Para os egípcios, o sol era um deus, a lua representava, igualmente, uma divindade, bem como as estrelas do céu, para os povos do oriente, tinham a função de dirigir-lhes o destino.
Para os povos da época os luzeiros eram mitos; no entanto, para o povo da bíblia os luzeiros foram criados por Deus para servir à humanidade.
Assim, por marcarem o tempo, os luzeiros revestem-se de especial significado, porquanto a bíblia está repleta de referência a ciclos. A criação desses marcadores, no quarto dia, seguiu um propósito que permitirá a compreensão dos textos que dizem respeito a ciclos, como os ciclos naturais, ciclos astronômicos, ciclos da natureza e ciclos proféticos.
Estabelecida a criação em sete dias, o quarto dia ocupa o centro, pois há três dias antes e três dias depois. Essa estrutura literária é a mesma estrutura do candelabro, que é também a estrutura dos verbos em hebraico. Trata-se de uma estrutura setenária que apresenta o conjunto de símbolos em toda a literatura bíblica. O candelabro tem uma estrutura central com três hastes de cada lado. O quarto dia representa, então, uma espécie de linha vertical,uma linha divisória entre duas partes.
Por outro lado, não há dúvida de que a descrição em seis dias da criação do mundo, reservando-se o sétimo dia ao descanso, objetivou revelar que há ciclos que regem o universo, com períodos ascendentes e descendente, de forma que no final de um ciclo há sempre um período de repouso. Constata-se, assim, o ritmo: repouso, movimento, repouso, movimento, como são os ciclos no mundo das formas.
Toda a vida humana é permeada por ciclos de quatro ou sete períodos. O ciclo de quatro fases é materialmente perceptível, mas o setenário é espiritual, difícil de ser percebido. Todo ciclo tem um padrão de quatro ritmos ou quatro fases. A lua, por exemplo, tem quatro fases; são quatro as estações do ano; os pontos cardeais têm quatro pontos.
O final de um ciclo deixa sinais evidentes do seu fim. Tomando, por exemplo, as estações, o final da primavera é sinalizado pela diminuição da vitalidade das flores. Cada fase lunar é, igualmente, sinalizada, pois as fases de um ciclo não se encerram e tampouco se iniciam de forma abrupta.
 O relato da criação chama atenção para a questão dos ciclos ao narrar que Deus criou em sete dias. O relato bíblico deixa evidente que a criação se deu num ciclo setenário.


Estudo baseado nas traduções de Haroldo Dutra que estão disponíveis em formato de vídeo no youtube.
Imagem: Google.

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