Esta será uma série de textos que iremos publicar baseados nos estudos e traduções que nosso amado Haroldo Dutra está realizando, enriquecendo grandemente a literatura espírita. Peço de antemão, que tenham a mente aberta para a leitura, e abracem com o coração estes ensinamentos aqui descritos. Boa Leitura!!
A ordem no caos (GN 1, 1-5)
No
princípio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra estava vazia e vaga, as
trevas cobriam o abismo, e o alento de Deus revoava sobre a face das águas.(GN
1, 1-5)
A criação do céu e
da terra no vazio e no caos que imperava é descrito neste primeiro versículo.
No versículo seguinte, o autor faz referência à água, sem que houvesse qualquer
informação a respeito de sua criação, admitindo-se, assim, a preexistência da
água no início da criação.
Não se trata de um
equívoco ou fantasia do narrador bíblico, uma vez que é preciso considerar a
diferença existente entre a narrativa hebraica e a narrativa ocidental. A
primeira adota a narrativa circular ou espiral, significando dizer que
após a edição de uma frase, segue-se várias repetições, acrescentando-se, em
cada repetição, um novo detalhe.
Neste sentido,
extrai-se, literalmente, do texto - no princípio Deus criou o céu e
a Terra - a ideia de que Deus criou tudo. Isto porque, em
Hebraico, não existe a palavra tudo. Para isso, ou seja,
para expressar TUDO se empregou a técnica da
utilização dos opostos. Por esse método, por exemplo, para se de fazer
referência a todos os elementos da Terra, usa-se as expressões fogo e
água; para se expressar emoções, utiliza-se os opostos pranto e alegria. Desta
forma, quando o texto emprega as expressões céu e terra, quer
transmitir a noção tudo que existe no planeta.
Assim, a primeira
afirmação do autor bíblico corresponde a ideia de que Deus criou tudo, e, numa
espiral, a frase vai se repetindo e, cada vez que se repete, uma novidade é
acrescentada. Observa-se que no primeiro versículo, o autor diz que Deus criou
o céu e a terra, e, nos versículos 6 a 8, o autor descreve como o céu foi
criado.
Relativamente a
água, não há referência sobre sua criação, evidenciando-se que que seu uso
foi empregado simbolicamente para ilustrar um elemento que
preexistia à criação e, com certeza, não foi descuido do autor do texto, mas um
propósito transcendente.
Neste sentido, a
revelação da doutrina espírita informa que o fluido cósmico universal é o
elemento material portador de propriedade especiais e do qual tudo se origina.
A água, inserida no texto, refere-se, sem dúvida, ao fluido cósmico universal.
Ademais, o narrador bíblico não poderia ser compreendido pela mentalidade
reduzida do seu povo, apontando verdades que somente mais tarde, com a
aquisição da maturidade intelectual, poderia ser entendida.
Por isso, o
texto é repleto de alegorias e símbolos, razão pela qual a expressão água foi o
termo encontrado pelo autor para definir um elemento que o espiritismo definiu
como fluido cósmico universal, e que a ciência atual define como “campo
de higgs”.
No livro Boa Nova,
psicografia de Chico Xavier, o espírito Humberto de Campos, capitulo 19,
descreve um diálogo entre Jesus e João, onde o Mestre acentua que a água é “o símbolo mais perfeito da essência de Deus, que tanto
está nos céus como na Terra.”
Portanto,
a água, referida no versículo dois do primeiro capítulo, não se trata do
elemento água, mas referência a um elemento à época desconhecido, definido pelo
espiritismo como fluido cósmico.
No
livro A Gênese, Cap. XIV, item 2, Kardec aborda o fluido cósmico e o descreve
como o elemento primordial:
O
fluido cósmico universal é, como já foi demonstrado, a matéria elementar
primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável
variedade dos corpos da Natureza. (Cap. X.) Como princípio elementar do
Universo, ele assume dois estados distintos: o de eterização ou
imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal, e o de
materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira, consecutivo
àquele. O ponto intermédio é o da transformação do fluido em matéria tangível.
Mas, ainda aí, não há transição brusca, porquanto podem considerar-se os nossos
fluidos imponderáveis como termo médio entre os dois estados. (Cap. IV, nos 10
e seguintes.)
A
pergunta 36 do Livro dos Espíritos é ainda mais esclarecedora:
O
vazio absoluto existe em alguma parte no espaço universal? Não, nada
é vazio. O que imaginais como vazio é ocupado por uma matéria que escapa aos
vossos sentidos e aos vossos instrumentos.
É por isso que no
livro Gênesis com frequência se encontra o emprego do verbo SEPARAR. Quando
o autor do livro escreve que Deus separou as águas, a luz da escuridão, etc.,
está se referindo a individuação do fluido cósmico universal.
Os conceitos mais
importantes de Genesis é a criação e a cocriação, igualmente tratada no Livro
dos Espíritos. Só Deus cria os espíritos. Os espíritos, por sua vez, são
cocriadores em plano maior e em plano menor, pois podem atuar no fluido cósmico
universal de acordo com seu estado evolutivo.
Neste
sentido, no livro Evolução em Dois Mundos, Emmanuel, psicografia de Chico
Xavier, capitulo 1, faz importantes esclarecimentos, ensinando que tudo que
existe na Terra, inclusive o tempo, foi criado seguindo as leis gerais divinas.
No livro A caminho
da Luz, Emmanuel informa que a beleza, junto à ordem[2], constituiu
um dos traços indeléveis de toda a criação.
Nota-se,
pela leitura do primeiro capítulo do livro bíblico de Gênesis, exatamente a
pontuação de Emmanuel no Livro A caminho da Luz, pois a bíblia traz a descrição
de Deus ordenando e estabelecendo ordem na manipulação do fluido e, assim, na
criação do universo, cada elemento com sua estrutura, uns mais simples, outros
mais complexos.
Deus
também é provedor. Por isso se justifica a criação do planeta com toda sua
beleza esplendorosa, pois os espíritos criados necessitam de um local agradável
para trabalhar sua evolução.
Deus
ordena, provê e comissiona, ou seja, estabelece tarefas para os seres da
criação. No livro dos espíritos, a questão 132, esclarece que o objetivo da
encarnação é permitir a evolução do espírito. E isso só é possível por meio das
várias experiências nos corpos materiais. Por isso, cada espírito, em cada mundo, utiliza-se
de um corpo material correspondente com a matéria essencial do
mundo respectivo a fim de executar ali, sob esse ponto de vista, as
determinações de Deus, de modo que, concorrendo para a obra geral, ele próprio
se adianta.
A vida corporal permite ao espírito lidar com a matéria nos seus mais
diversos aspectos, conferindo-lhe experiência e sabedoria ao longo do processo
evolutivo.
O Alento de Deus (GN 1, 1-2)
No versículo 2, do primeiro capítulo, está narrado que: A terra
era um caos informe; sobre a face do abismo, a treva. E o alento de Deus
revoava sobre a face das águas. (GN 1, 1-2).
Alento, no dicionário comum, significa expelir o ar, soprar. Daí porque
o sentido do texto é descrever que Deus, ao soprar a face das águas, criou
tudo.
A doutrina espírita, mantendo-se coesa com o texto bíblico revela que o
fluido cósmico universal é o elemento que dá origem a tudo, céu e terra.
Compreende-se, assim, que autor do livro de Genesis pretendeu
transmitir, na narrativa da criação, é que Deus, ao separar as águas, para
criar o céu e tudo que está abaixo do céu, manipulava uma espécie de matéria
cósmica, por meio das inteligências divinas que seguiam e executavam a sua
vontade.
Por falta de qualquer outra referência, na época, o autor do livro
utilizou a palavra água para vestir a ideia que pretendeu transmitir. Milênios
depois, foi a vez dos espíritos da codificação vestir a mesma ideia, com o nome
de fluido cósmico universal, tendo em vista a maior capacidade de compreensão
humana. Atualmente a ciência tem dado o nome a essa matéria de energia escura[1].
À propósito, a questão 27 do LE, esclarece que o fluido
cósmico é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado
de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.
É importante ressaltar que, de acordo com Kardec, somente determinada
classe de espíritos conhece bem o fluido cósmico a ponto de manipulá-lo. Os
espíritos de escala inferior usam o fluido, assim como nós, porém não sabem
manipulá-lo, pois não compreendem o processo de sua manipulação.
Os espíritos puros conhecem a lei, conhecem o processo, e podem
manipular o fluido conscientemente. Há espíritos que, embora portador de alto
grau de inteligência e sabedoria, não conseguem manipular o fluido, pois
somente espíritos que já evoluíram intelectualmente e, sobretudo, moralmente, é
que podem ter acesso às energias mais sutis.
O fluido cósmico é passível de infinitas modificações e, por isso, dá
origem a tudo que existe no mundo corpóreo e incorpóreo. O períspirito e o
fluido vital, que anima os corpos orgânicos, são também derivações do fluido
cósmico universal. (LE, questões 68 a 70).
[1] Matéria escura
é invisível, mas é tudo, ou quase tudo, pois compõe 85% do universo e o próprio
universo só existe como conhecemos por causa dela. Foi por ela que a matéria
comum pôde se organizar em planetas, estrelas e galáxias. No princípio, a o
universo era uniforme. A gravidade adicional da matéria escura que fez com que
tudo passasse a se aglomerar. Mais ou menos como um leite uniforme coalhando em
grumos. "A matéria escura é nossa mãe", afirma o coautor do estudo,
Hitoshi Murayama. "Sem ela, nenhuma estrela, galáxia ou mesmo nós
haveríamos nascido". (Fonte http://super.abril.com.br/ciencia/cientistas-apresentam-explicacao-simples-para-a-materia-escura)
Separação do dia e da noite (GN 1, 3-5)
Disse Deus: Haja luz. E houve luz.
Deus viu que a luz era boa; e Deus separou a luz da treva: Deus chamou a luz
“dia” e a treva “noite”. Passou uma tarde, passou uma manhã: o primeiro dia
Este versículo narra
a criação de uma luz e, em seguida, separa a luz das trevas. Denomina a luz de
dia e, as trevas, de noite. Nota-se, a falta de referência ao sol e tampouco à
lua. Somente no versículo 14 é que o Sol e a Lua (luminares) são criados para
governar o dia e a noite. Assim, é possível compreender que essa luz, criada no
primeiro dia, não é uma luz física porque somente no quarto dia o sol foi
criado.
Os estudiosos
entendem que essa luz, criada no primeiro dia, é uma referência a Jesus, a
quem, aliás, Deus conferiu a governança da Terra, conforme revela Emmanuel, no
livro A caminho da luz.
Neste sentido, o
Evangelho de João 1, 1-9, transmite essa ideia de forma nítida.
“No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio
com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito
se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz
resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. João 1:1-5”
Matheus 4, 16, também
compara Jesus à luz:
“O povo que jazia
nas trevas viu uma grande luz, e aos que estavam detidos na região e sombra da
morte, a luz raiou”.
Emmanuel, no
livro Levantar e Seguir, escreveu um capítulo chamado a Luz
Raiou, referindo-se ao início da missão de Jesus.
É preciso considerar
que tanto o livro Genesis, como os demais livros da Bíblia, transmite uma
história, que se traduz na história da evolução humana e não somente a história
do povo hebreu. É preciso considerar, também, que a lei que rege o macrocosmo é
a mesma lei que rege o microcosmos, como a lei que rege o mundo material é a
mesma lei que rege o mundo espiritual, porque o autor dessas leis é um só, ou
seja, Deus.
Neste sentido, as
reflexões dos textos bíblicos devem dirigir-se, também, para o mundo íntimo.
Por isso, o livro de
Gênese, ao descrever a evolução material da civilização e do planeta, também
está descrevendo a evolução moral ou espiritual da criatura humana.
Sob esse aspecto, a
separação da luz e das Trevas tratada no texto, se refere, igualmente, a
estágios de consciência que o espírito humano desenvolve no caminho da sua
evolução.
De acordo com o
texto, o momento decisivo na evolução humana é justamente quando há separação
da treva e da luz. No entanto, para que seja possível ao ser humano separar
algo é imprescindível que tenha capacidade de distinguir, e, para distinguir, é
preciso ter discernimento, ou seja, é preciso conhecer as características de um
elemento e as características de outro elemento para poder separá-los.
Na parábola do
joio e do trigo, quando o trigo e o joio estão muito novos não é possível
distinguir um do outro. Só depois que crescem e vão amadurecendo é que se
diferenciam, sendo possível separá-los. O senhor da parábola diz para não
arrancar o joio enquanto está pequeno o trigo, para não os arrancar juntos,
pois neste momento não é possível distinguir um do outro. A evolução também
apresenta esse desafio. A separação da treva e da luz interna não se dá no
início da evolução do espirito, somente mais tarde, com a aquisição da
consciência.
Joana de Angelis, no
livro Psicologia da Gratidão, psicografia de Divaldo Franco, capitulo 5,
referindo-se ao discernimento que proporciona o surgimento da consciência,
marcando a separação da dualidade arquetípica da sombra e da luz, ensina:
“Desde o momento
quando ocorreu a fissão da psique dando lugar ao surgimento dos arquétipos
ego e self, os pródromos da consciência começaram a ensaiar o
despertamento das emoções de variado teor e significado psicológico.”
No Oriente, o
discernimento que proporcionou o surgimento da consciência, está na tradição do
Bagavad Gita, parte do Mahabarata, quando o mestre Krishna, dialogando com o
discípulo Ardjuna, ajudou-o a penetrar na vida mística, especialmente na luta
que deveria ser travada com destemor entre as virtudes (de pequeno número) e os
vícios (muito mais numerosos), mediante a aplicação das forças nobres da
consciência.
Na resposta da
questão 120 a 122, do Livro dos Espíritos, os imortais ensinam que o
livre-arbítrio se desenvolve à medida que o espírito tem consciência de si
mesmo. Antes de adquirir a consciência o espírito age por determinismo.
Criação
do céu, da terra e do mar (GN 1, 6-10)
Disse
Deus: Exista uma abóbada entre as águas, que separe águas de águas. E Deus fez
a abóbada para separar as águas abaixo das águas acima da abóbada. E assim foi.
E Deus chamou à abóbada céu. Passou uma tarde, passou uma manhã: o segundo dia.
E disse
Deus: Ajuntem-se num só lugar as águas abaixo do céu, e apareçam os
continentes. E assim foi. E Deus chamou os continentes “Terra”, e a massa das
águas chamou “mar”. E Deus viu que era bom.
A separação das águas
está detalhada no tópico 5.1, do capítulo 5, neste site. No entanto, é
interessante notar que o povo hebreu, durante o período em que viveu no Egito,
conheceu a filosofia de Hermes Trimegisto, em especial a Lei da
Correspondência:
"Aquilo que está
embaixo é como aquilo que está em cima; aquilo que está em cima é como aquilo
que está embaixo”.
Não há dúvida que
esse texto foi escrito levando-se em consideração um dos maiores princípios da
lei Divina, o princípio da unidade, no sentido de que não há diferença
substancial entre o que está o macro e o microcosmo; a diferença pode ser de
complexidade, de dimensão, pois o que existe nas esferas superiores é muito
mais sutil, mais elaborado, mais desenvolvido, mais evoluído, mas é, na essência,
igual aos elementos que se expressam nas faixas inferiores, ou em baixo.
Aliás, o conceito de
microcosmo, elaborado pelos filósofos antigos, compreende a existência de todos
os elementos que compõe o macrocosmo, de forma elaborada e complexa, como os
que estão nas estruturas menores.
Interessante
refletir, neste prisma, sobre as comparações entre o corpo humano, por exemplo,
que possui em sua composição elementos químicos, minerais, bactérias, gases
flora, etc. e o sistema solar. Há alguma identidade de funcionamento entre
esses corpos ou são leis diferentes que os regem? Com certeza, são as mesmas
leis que regem esses corpos, porque o autor dessas leis é Deus, ser único,
absoluto.
Aliás, no livro
A Gênese, de Allan Kardec, um dos critérios estabelecidos pelo codificador,
para se avaliar qualquer teoria, qualquer filosofia, ou proposta, bem como para
se avaliar o grau de erro de determinada teoria, é compará-la com os atributos
da divindade. Havendo algum choque, em algum ponto, é sinal de falibilidade do
sistema ou da teoria. Isso porque, Deus existe no plano da unidade
absoluta, inalcançável à criatura humana, de forma que toda explicação que
se fizer a respeito de qualquer sistema, será sempre relativo.
Criação da flora (GN 1, 11- 13)
E Deus disse: Verdeje a terra erva verde que
produza semente e árvores frutíferas, que deem frutos segundo sua espécie e que
levem sementes sobre a terra. E assim foi. A terra brotou erva verde que dava
semente segundo sua espécie, e as árvores que davam fruto levavam semente
segundo sua espécie. E de Deus viu que era bom. Passou uma tarde, passou na
manhã: o terceiro dia.
A partir desse
versículo o relato da criação adentra a vida orgânica, antes ocupado apenas com
a vida inorgânica. Considerando que o foco deste estudo é buscar o conteúdo
espiritual dos textos, sob os aspectos das três relações, é imprescindível,
para a compreensão deste versículo, sob o aspecto espírita, a orientação
disponibilizada no livro Evolução em Dois Mundos, pelo espírito André Luiz, psicografia
de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, especialmente o capitulo
terceiro, que trata do tema Primórdios da vida e Nascimento
do reino vegetal
O espírito André
Luiz, no estudo em questão, assinala que a evolução se dá em dois planos,
material e espiritual, de tal forma que pode parecer difícil catalogar os elos
da evolução examinando-a apenas sob as lentes do mundo físico. Acentua o autor
espiritual que sem os ascendentes espirituais é impossível localizar, de forma
precisa, a evolução material.
Deste modo, André
Luiz, ao abordar o reino vegetal, trata também da evolução do corpo espiritual,
porquanto a ascensão espiritual do princípio inteligente se verifica nos reinos
da criação, pois a doutrina Espírita revela que o princípio inteligente, criado
simples e ignorante, se elabora nos diversos reinos, mineral, vegetal e animal,
para poder atingir o reino hominal.
É assim que tudo
serve, que tudo se encadeia na natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo,
que também começou por ser átomo. Admirável lei de harmonia, que ainda o nosso
acanhado espírito não pode apreender em seu conjunto! (LE, 540).
Evidencia-se, assim,
uma vez mais, a harmonia existente entre o texto bíblico e a doutrina espírita.
Na Gênesis bíblica a criação do planeta terra inicia-se com a separação das
águas, que corresponde a manipulação do fluido para criação de todos elementos
minerais, indispensáveis a automação do planeta, seguindo-se à criação dos
reinos mineral, vegetal, animal, até chegar no homem, exatamente como descrevem
os espíritos a evolução do princípio inteligente.
A criação dos luzeiros (GN 1, 11- 13)
E Deus disse: Existam luzeiros na
abóbada do céu para separar o dia da noite, para assinalar as festas, os dias e
os anos; e sirvam de luzeiro na abóbada do céu para iluminar a terra. E assim
foi. E Deus fez os dois luzeiros grandes: o luzeiro maior para governar o dia,
o luzeiro menor para governar a noite, e as estrelas. E Deus os colocou na
abóbada do céu para dar luz sobre a terra; parra governar o dia e a noite, para
separar a luz da treva. E de Deus viu que era bom. Passou uma tarde, passou na
manhã: o quarto dia.
A leitura do texto
deste versículo revela a criação dos luzeiros para iluminar a terra, governar o
dia e a noite, e marcar o tempo.
No entanto, esses
luzeiros não foram nominados. Os estudiosos são unânimes em afirmar que o autor
do livro Gênesis assim o fez para diminuir a importância conferida, pelos povos
da época, ao sol, a lua e as estrelas.
Para os
egípcios, o sol era um deus, a lua representava, igualmente, uma divindade, bem
como as estrelas do céu, para os povos do oriente, tinham a função de
dirigir-lhes o destino.
Para os povos da
época os luzeiros eram mitos; no entanto, para o povo da bíblia os luzeiros
foram criados por Deus para servir à humanidade.
Assim, por marcarem
o tempo, os luzeiros revestem-se de especial significado, porquanto a bíblia
está repleta de referência a ciclos. A criação desses marcadores, no quarto
dia, seguiu um propósito que permitirá a compreensão dos textos que dizem
respeito a ciclos, como os ciclos naturais, ciclos astronômicos, ciclos da
natureza e ciclos proféticos.
Estabelecida a
criação em sete dias, o quarto dia ocupa o centro, pois há três dias antes e
três dias depois. Essa estrutura literária é a mesma estrutura do candelabro,
que é também a estrutura dos verbos em hebraico. Trata-se de uma estrutura
setenária que apresenta o conjunto de símbolos em toda a literatura bíblica. O
candelabro tem uma estrutura central com três hastes de cada lado. O quarto dia
representa, então, uma espécie de linha vertical,uma linha divisória entre duas
partes.
Por outro lado, não
há dúvida de que a descrição em seis dias da criação do mundo, reservando-se o
sétimo dia ao descanso, objetivou revelar que há ciclos que regem o universo,
com períodos ascendentes e descendente, de forma que no final de um ciclo há
sempre um período de repouso. Constata-se, assim, o ritmo: repouso, movimento,
repouso, movimento, como são os ciclos no mundo das formas.
Toda a vida humana
é permeada por ciclos de quatro ou sete períodos. O ciclo de quatro fases é
materialmente perceptível, mas o setenário é espiritual, difícil de ser
percebido. Todo ciclo tem um padrão de quatro ritmos ou quatro fases. A lua,
por exemplo, tem quatro fases; são quatro as estações do ano; os pontos
cardeais têm quatro pontos.
O final de um ciclo
deixa sinais evidentes do seu fim. Tomando, por exemplo, as estações, o final
da primavera é sinalizado pela diminuição da vitalidade das flores. Cada fase
lunar é, igualmente, sinalizada, pois as fases de um ciclo não se encerram e
tampouco se iniciam de forma abrupta.
O relato da
criação chama atenção para a questão dos ciclos ao narrar que Deus criou
em sete dias. O relato bíblico deixa evidente que a criação se deu
num ciclo setenário.
Estudo baseado nas traduções de Haroldo Dutra que estão disponíveis em
formato de vídeo no youtube.
Imagem: Google.
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